Prevalência de inadequação de nutrientes e as associações com desfechos clínicos em indivíduos com insuficiência cardíaca
Insuficiência cardíaca; Consumo de alimentos; Micronutrientes; Análise de sobrevida.
O consumo alimentar e dietético apresenta um papel crucial no controle da insuficiência cardíaca (IC). No entanto, observa-se uma escassez de estudos que apontam a associação entre o consumo de micronutrientes e os desfechos clínicos da IC. Objetivou-se avaliar a prevalência de inadequação de micronutrientes e associar aos desfechos clínicos em indivíduos com IC acompanhados ambulatorialmente. O estudo descritivo de delineamento longitudinal prospectivo foi realizado com uma amostra de 124 adultos e idosos atendidos em um ambulatório de referência para atendimento para IC em Natal/RN. Foram coletados dados sociobiodemográficos, clínicos, antropométricos e do consumo alimentar, por meio de recordatórios de 24 horas. O consumo habitual de energia, macro e micronutrientes foi avaliado e calculada a prevalência de inadequação dos micronutrientes. Os participantes foram divididos nos grupos de deficiência moderada e alta, conforme avaliação individual do consumo de cada micronutriente. Os desfechos clínicos (hospitalizações e mortalidade) ocorridos em 24 meses de acompanhamento foram considerados para as avalições da sobrevida global e livre da doença. A sobrevida foi calculada por meio da estimativa de Kaplan-Meier e a comparação das curvas com Log-Rank. As taxas de risco de morte (Hazard Ratio, HR) foram calculadas por modelos de regressão de Cox. Registrou-se uma prevalência de 100% de inadequação do consumo de vitaminas B1 e D, e superior a 80% para as vitaminas B2, B9, E, cálcio, magnésio e sódio. Não foi observada diferença na sobrevida global e na sobrevida livre de eventos dos indivíduos dos grupos com deficiência de micronutrientes moderada e alta (HR = 1,02; p = 0,96 e HR = 1,04; p = 0,92, respectivamente). O excesso de peso, classe funcional da New York Heart Association (NYHA) I ou II e maior taxa de filtração glomerular apresentaram associações significativas com uma melhor sobrevida global (todos p<0,05). Indivíduos com consumo adequado de vitamina A apresentaram uma sobrevida livre de eventos maior em comparação com os indivíduos com consumo inadequado (HR = 2,22; p = 0,04). A classe funcional NYHA III/IV (p=0,009) e o peso adequado conforme IMC (p=0,035) foram preditores independentes do tempo de sobrevida global, enquanto que a classe funcional NYHA III/IV (p<0,001), e o consumo inadequado de vitamina A (p<0,05) foram independentemente associados à sobrevida livre de eventos. Conclui-se que indivíduos com IC atendidos ambulatorialmente apresentam altas prevalências de inadequação de micronutrientes. A inadequação no consumo de vitamina A, IMC eutrófico e classe funcional NYHA III/IV apresentaram associação com os desfechos clínicos desfavoráveis, ressaltando-se a importância do monitoramento desses parâmetros no contexto da IC.