Antropologia e moralidade em Rousseau: A gênese do mal moral social
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A proposta de tese trata da origem do mal moral-social diante da antropologia filosófica de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), considerando sua filosofia política e moral na obra Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1755). Considerando a hipótese da inocência originária, temos dois questionamentos: o primeiro, por que o homem tornou-se mau? O segundo, como o homem tornou-se mau? Estas questões, estruturam a nossa pergunta principal: qual a gênese do mal moral-social? Segundo Rousseau, este tipo de mal é a desigualdade moral ou política, cujo conhecimento pressupõe o conhecimento do seu constituinte, a saber, o próprio homem. Para tanto, iremos nos concentrar no conhecimento da natureza do homem e na investigação dos fundamentos da sociedade. Assim, o primeiro capítulo destaca a vocação antropológica de Rousseau e sua contribuição para o estudo do homem e da sociedade. Diante desta genealogia da maldade moral, precisamos nos debruçar também na noção do estado de natureza, levando em consideração que de acordo com a filosofia do genebrino há esta linha de reflexão: estado de natureza ou período de inocência originária e estado de sociedade ou tempo de maldade estabelecida. Interessa-nos saber o percurso de uma condição à outra. Isto posto, nosso segundo capítulo trata das condições do estado de natureza, destacando as características do homem natural e seu comportamento de acordo com Hobbes e Locke. O terceiro mostra a condição do homem natural na visão de Rousseau nos aspectos físico, metafísico e moral, inclusive, destacando a crítica que o genebrino faz aos seus predecessores. Em Rousseau, esta genealogia do mal moral estrutura-se diante do contraste: essência “homem individual” e aparência “homem em relação”. Como o objeto da tese parte da essência do homem, será percebido que sua natureza mudou consideravelmente com a ruptura da inocência e, ao mesmo tempo, serão destacados os motivos destas mudanças, principalmente em virtude da existência de faculdades naturais como o amor de si e a piedade, além de potencialidades como a razão e a perfectibilidade. No quarto capítulo, a fim de destacarmos os pontos cruciais da gênese e efetivação do mal moral-social, iremos trabalhar os seguintes pontos: (i) a transição da realidade do amor de si mesmo para o amor-próprio, objetivando refletir sobre o fundamento moral da perda da inocência originária; (ii) a passagem do estado de natureza primitivo para o estado de natureza histórico, acontecimento vinculado ao surgimento da sociedade civil, para nos colocar diante dos fatos históricos (embora seja uma leitura filosófica-conjectural); (iii) o surgimento da propriedade privada, como acontecimento marcante do nascimento da desigualdade; (iv) o verdadeiro estado de guerra, como consequência da origem, da efetivação e da expansão do mal moral-social, retratado pelos diferentes níveis de maldade social consolidada, a saber: a desigualdade de fortuna (diferença entre ricos e pobres), a desigualdade relacionada ao poder (diferença entre poderoso e fraco) e a desigualdade referente à dominação (diferença entre senhor e escravo). Além disso, em um último momento, será enfatizado que a constituição política e jurídica surgiu, a princípio, para justificar estas desigualdades.