O DIREITO À MORTE E O COMPROMISSO LITERÁRIO: MAURICE BLANCHOT E JEAN-PAUL SARTRE.
Maurice Blanchot. Jean-Paul Sartre. Literatura. Linguagem. Experiência. Dialética.
Esta dissertação tem como tema a tensão entre Maurice Blanchot e Jean-Paul Sartre quanto ao aspecto ético, político e filosófico da literatura. Entendemos que essa tensão faz parte da subjetividade artística moderna, tendida entre a liberdade de recusa soberana e a aceitação do compromisso com a história, de modo que ambos os autores acirram essa contradição da literatura. Se, por um lado, Blanchot (2011b) afirma que a literatura é a porta para uma experiência além dela mesma, experiência que busca tornar a morte possível, Sartre (2004) afirma que a literatura é o âmbito de uma relação entre liberdades onde tem lugar uma dialética fundamental que implica a tomada de consciência. Ambos os autores concebem a realidade humana como negatividade, por isso a importância de Hegel como fundo comum de onde a tensão emerge. A filosofia hegeliana, através dos cursos de Alexandre Kojéve (2012), com sua ênfase na ideia de morte, terá em Blanchot uma rearticulação sem a qual não poderíamos compreender suas ideias sobre a literatura. Em Sartre, a filosofia hegeliana é igualmente importante, uma vez que suas ideias sobre o existencialismo articulam não apenas a fenomenologia husserliana e o marxismo (posteriormente), mas a dialética da negatividade e do universal concreto. Para Blanchot, a literatura manifesta uma liberdade absoluta, uma interrogação radical que põe em causa todos os projetos humanos. Para Sartre, essa liberdade absoluta, que pode ter sido o afã do surrealismo, é concebida como tentação da irresponsabilidade. A literatura permanece o lugar de uma ambiguidade que está presente nos dois autores.