DAS SECAS, DO ALGODÃO E DO SAL: A ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO RIO GRANDE DO NORTE E OS USOS DO TERRITÓRIO
Ferrovias; Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte; Território Usado; Geografia Histórica
O desenvolvimento da rede ferroviária no Brasil esteve desde as primeiras linhas projetadas fortemente vinculado ao objetivo de garantir o escoamento da produção agrícola realizada no interior do território nacional. Nos estados que hoje compõem a região Nordeste, em geral, e no Rio Grande do Norte, em particular, o instrumento político de uso do discurso do “combate à seca” revestiu o propósito da construção das estradas de ferro como um dos elementos centrais das “obras contra as secas”. Dessa empreitada, intensamente promovida nas primeiras décadas do século XX, surgiu a Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte (EFCRGN), tida pelas oligarquias regionais que defendiam sua edificação como a infraestrutura que garantiria não apenas o arrefecimento dos efeitos causados pelas irregularidades climáticas, mas também o desenvolvimento econômico do estado. Do desígnio pronunciado inicialmente, esta ferrovia adquiriu outras atribuições no desenrolar dos anos que sucederam à sua inauguração em 1906. A historiografia da gênese das alterações nas funções atribuídas à EFCRGN demonstra que, por vezes, tais transformações estiveram alinhadas à interesses de elites locais e, em outras, mais vinculadas à projetos de orientação nacional. A partir disso, é possível questionar: de que maneira essa linha férrea consubstanciou os interesses de um planejamento centrado nas instituições subordinadas aos poderes representados pela estrutura do federalismo brasileiro? Isto posto, o objetivo inicial desta pesquisa de dissertação é analisar os diferentes usos do território potiguar instituídos entre 1872 e 2007 no que diz respeito à estrutura ferroviária materializada a partir da EFCRGN. Para tal, elenca-se como princípio analítico os pressupostos da Geografia Histórica e a leitura do território usado como eixo norteador da investigação. Ainda no universo teórico-conceitual, promove-se às discussões sobre situação geográfica, macrossistema técnico e federalismo como centrais na análise efetuada. Todo o arcabouço conceitual será confrontado com o exame de fontes primárias e secundárias, que variam desde documentos e relatórios produzidos no âmbito governamental, aos jornais, revistas e demais registros produzidos no período estudado, ademais de entrevistas a serem realizadas com agentes públicos que estiveram vinculados formalmente ao objeto aqui investigado. Propõe-se ainda interpretação dos usos contemporâneos dos objetos técnicos ainda presentes no território, destacando-se para isso a realização de trabalho de campo pelo trajeto das suas antigas estações.