Currículo da Vida do Corpo Trans: corpos performatizados na escrita de si
Currículos. Gêneros. Sexualidades. Transgeneridades.
Este trabalho foi desenvolvido a partir do objeto de pesquisa as escritas de si que performatizam modos de ser mulher e modos de ser homem no Currículo da Vida do Corpo Trans, cujo o problema de pesquisa diz respeito a como os discursos generificados a partir das escritas de si constituem performatividades, ensinamentos e aprendizagens no Currículo da Vida do Corpo Trans? Essa dissertação se encarregou de analisar os discursos generificados divulgados a partir das escritas de si na constituição de performatividades, os ensinamentos e as aprendizagens que produzem o Currículo da Vida do Corpo Trans. Trata-se de uma pesquisa baseada nos estudos de currículos, gêneros e sexualidades, além de estudos com inspiração em Michel Foucault. Para a construção do material de análise, usou-se como metodologia, a escrita (auto)biográfica tomando como empréstimo o conceito de escrevivência de Conceição Evaristo, como narrativa da vida cotidiana. Este trabalho utilizou o gênero carta como instrumento para o registro das narrativas. A análise do discurso, de inspiração foucaultiana, foi a ferramenta utilizada para o tratamento dos dados a partir de recorrências encontradas nas cartas. A pesquisa teve por objetivo, a partir do Currículo da Vida do Corpo Trans, identificar os discursos generificados que dizem sobre o corpo de pessoas trans; identificar e analisar quais ensinamentos sobre o corpo trans estão presentes nas cartas e quais aprendizagens; identificar normatizações e normalizações acerca dos modos de viver e de estar no mundo; analisar os processos de subjetivação e nomear as posições de sujeitos produzidas no currículo analisado e localizar as performatividades de gênero presentes nas escritas em análise. Para isso, alguns conceitos se fizeram centrais. A saber: currículos, gêneros, processos de subjetivação, práticas de significação, norma, normal, anormal, transgeneridade, corpo. Como resultado, observou-se que o currículo analisado produz posições de sujeito mulher-trans e homem-trans, muitas vezes em consonância com as posições de sujeito mulher-cisgênero e homemcisgênero, numa tentativa de produzir uma mulher e um homem padrão-cisgênero a partir de algumas práticas que seguem sendo reiteradas para/na sociedade, muitas vezes reproduzindo discursos biológicos e machistas. Ainda assim, foi possível perceber rupturas nas expectativas de gêneros mesmo após os indivíduos transacionarem de gênero, além do combate e incômodo por discursos cisheteronormativos. Evidenciou-se que o discurso sobre a comunidade transgênera, de que indivíduos trans nasceram em corpos errados já não é mais uma máxima e que os corpos têm assumido performances muitas vezes híbridas quando pensamos no binarismo de gênero.