A CIDADE EM APAGAMENTO: ruínas, escombros e imaginários da modernidade (Brasil, 1900-1940)
Ruínas, Demolições, Representações, Sensibilidades, Melhoramentos Urbanos
Observar a cidade em seus trechos que decaem permite ao indivíduo o privilégio de presenciar um frame de uma narrativa que não cessa. Não diferente, as aglomerações humanas em suas variadas escalas e períodos têm em sua urdidura as ranhuras do processo que delineiam as suas formas no instantâneo conferido pelo observador. Enquanto uma cidade se constrói, uma outra cidade se apagam e as ruínas e os escombros são os efeitos desses processos em que um conjunto de imaginários é invariavelmente superado por outro. Suas peculiaridades se apresentam desde seu surgimento, mas também são reveladas no tratamento dispensado a elas. Os debates ocorridos entre as décadas de 1900 e 1940 que tinham como pano de fundo as cidades brasileiras, permitem responder questionamentos acerca dos interesses em disputa, bem como permitem observar as mudanças de sensibilidade sobre os processos de alteração do acervo construído das cidades e sobre os elementos remanescentes de seu passado. Deste modo, a pesquisa tem como objetivo identificar o papel desenvolvido pelas imagens dissolventes das cidades brasileiras na construção de sua memória e identidade do início do século XX, bem como as motivações subjacentes e os primeiros indícios da formação de sensibilidade acerca da preservação destes edifícios. Assume-se como hipótese principal que a transformação sensível sobre as “imagens dissolventes” das cidades e os esforços para preservar os anais de pedra operariam em retroalimentação com a elaboração da identidade e construção da memória nacional e também haveria uma distinção nos debates sobre salvaguarda ou condenação de edifícios arruinados conforme sua função social prévia ou imaginada Como objeto de estudo, tem-se os debates e manifestações em torno dos eventos de demolição, dos reconhecimentos de ruínas e a formação da sensibilidade de salvaguarda, amparada pela forja de uma identidade, memória e cultura mobilizada pelos edifícios de feições tradicionais das cidades brasileiras no início do século XX. A metodologia vai abordar representações, história cultural, paradigma indiciário, desdobrando-se em técnicas de leitura de imagens e análise textual. Considerando quais grupos sociais que representam, quais processos históricos testemunham/rememoram e se o estilo, a estética que carregam em si é condizente com a redação dos “anais de pedra” da cidade. Em um primeiro momento denunciam a fealdade, anacronismo e insalubridade dos edifícios antigos, e posteriormente disseminam a ressemantização destes mesmos elementos, que passam a ser parte compositiva dos “anais de pedra” da cidade.