OLHAR O OUTRO NOS OLHOS E PARA SI COM OS OLHOS DO OUTRO: Políticas Linguísticas para Surdos no Brasil e na Turquia
Políticas Linguísticas. Práticas Discursivas. Comunidade Surda. Brasil. Turquia
O presente trabalho tem como objetivo compreender as políticas linguísticas voltadas para a comunidade Surda, no contexto do Brasil e da Turquia, e as suas contribuições para o reconhecimento das respostas oferecidas, por tal planejamento linguístico, para as demandas da vida social dos sujeitos surdos. Dentre as motivações que nos levaram a realização de atravessamentos pelas perspectivas semânticas e axiológicas da comunidade surda turca está o seguinte cenário: embora a Turquia seja um país transcontinental (localizado entre a Europa e a Ásia) sua localização na garante o escape de ser classificada no lado Sul, periférico, na linha abissal do conhecimento (SANTOS, 2009). Desse modo, convidamos os povos de língua de sinais da Turquia e do Brasil para o diálogo entre “dois diferentes mundos” para que pudéssemos olhar a nós mesmos com os olhos de outra cultura, conforme Bakhtin (2011). Para tanto, nossas discussões nossas lentes teórico-metodológicas foram ajustadas com base na desaprendizagem e indisciplina da Linguística Aplicada, na concepção de linguagem de Bakhtin e do Círculo, nos Estudos Surdos e nas Políticas Linguísticas atravessadas pela Teoria do Direito Linguístico. Dito isso, elegemos como corpus de nossa pesquisa onze documentos jurídico-linguísticos brasileiros (2000-2016) e cinco legislações turcas (2005-2019) voltados para as línguas de sinais e, por conseguinte, para as comunidades surdas. Após o cotejamento das jurisprudências, ora citadas, evocamos as vozes sociais de surdos por meio de metáforas pertencentes a documentários e livros que tem o posicionamento axiológico da pessoa surda como centro de valor. No contexto de nossa pesquisa emergiram três categorias de pesquisa, a saber: (1) alteridade e vozes sociais: o voo da gaivota; (2) forças discursivas: um ouvido ambulante ou um corpo falante?; e, por fim, (3) o cronotopo de luta nas políticas linguísticas implícitas e explícitas. Observamos que, o excedente de visão, possibilitou o distanciamento do que já conhecemos (as políticas linguísticas voltadas para os surdos brasileiros), a apreciação do valor cultural do existir fora-de-mim questionando ao outro (o planejamento linguístico para surdos turcos) e encontrando alternativas de respostas dialógicas e axiológicas que transgredem a nossa própria vivência. Portanto, ao nos tornamos outros com o acabamento provisório refletido e refratado pela pupila cognoscente de um outro, potencializa-se a possibilidade de ver localmente (Brasil) o que ainda não foi visto, e/ou pensar de outra forma nas “categorias da nossa própria vida”.