ENTRE O SÉRIO E O CÔMICO NA FANTASIA DISTÓPICA: UMA ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES DE HERÓI CORPO E SOCIEDADE EM TEMPORADA DOS OSSOS
Fantasia distópica. Carnaval. Herói. Corpo. Sociedade.
A fantasia e a distopia parecem ter caído no gosto de leitores jovens por meio de livros como Harry Potter (1997) e Jogos Vorazes (2008). Ambos os livros apresentam uma maneira alternativa de representação da realidade, subvertem a cosmovisão oficial da vida e nos apresentam uma realidade carnavalizada, seja através da magia ou de um futuro distópico. A fantasia traz o riso, a distopia traz o medo, mas o que aconteceria se um romance apresentasse ambas essas características? Em Temporada dos Ossos (2016) somos apresentados a um mundo no qual a clarividência é real e alguns humanos possuem poderes esotéricos , no entanto, toda o tipo de clarividência é proibida e, para que sua prática se mantenha assim, o governo lança mão do controle da liberdade. Estamos diante, portanto, do que chamamos nesta pesquisa de fantasia distópica, um gênero híbrido que funde traços da fantasia e da distopia, construindo assim o que parece ser um exemplar hipermoderno de um romance do gênero sério-cômico. A problemática da fantasia distópica decorre do embate entre o riso que corrói a seriedade do mundo ao subvertê-lo de diferentes maneiras, por meio da fantasia, e o medo que, ao contrário, busca solidificá-lo por meio da manutenção violenta do poder, na distopia. Ademais, reconhecemos que as representações de herói, corpo e sociedade da fantasia distópica diferem das comumente encontradas na fantasia e na distopia. Para ancorar tal posicionamento, o presente trabalho propõe, com base nos postulados do Círculo de Bakhtin, acerca de questões de gênero discursivo, gênero discursivo híbrido e carnavalização e Canclini, acerca da reconversão, uma análise dialógica da fantasia distópica enquanto gênero que reconverte a fantasia e a distopia na hipermodernidade, a partir do livro Temporada dos Ossos (2016), da autora inglesa Samantha Shannon. A pesquisa se insere na área mestiça, híbrida e indisciplinar da linguística aplicada e se ancora também num referencial teórico da filosofia, estudos literários e culturais a partir de trabalhos de Han, Hall, Canclini, Bauman e Matangrano. Metodologicamente, se desenvolve a partir de uma perspectiva qualitativo-interpretativista e utiliza o paradigma indiciário proposto pelo historiador Carlo Ginzburg para a obtenção dos dados. Os resultados apontam para possíveis representações diversas de herói, de corpo e de sociedade na fantasia distópica.