RELAÇÕES DIALÓGICAS EM FANFICTIONS:
carnavalização na reescrita da saga Harry Potter na era da Convergência
Enunciado concreto. Dialogismo. Carnavalização. Cultura de convergência. Fanfictions.
As formas de consumo cultural, desde a popularização inicial até a era digital, desdobraram-se de diversas maneiras. Na modernidade, essas formas de consumo se diversificaram imensamente, constituindo um desafio à compreensão, não apenas de suas configurações e meios, em que várias mídias convergem mas, principalmente, de sua influência na cultura e nos modos de produção atual. Estabelecida nas últimas décadas, a cultura de fã é umas das formas contemporâneas de consumo. Ela reúne pessoas interessadas pelo mesmo produto cultural que o promovem, compartilhando suas impressões, teorias, expectativas e frustrações, em encontros periódicos e em sites e redes sociais online. Essa forma de consumo tem relativizado uma série de questões acerca do mercado cultural, a partir do momento em que esses indivíduos passam a produzir seus próprios produtos, baseados nas obras matrizes das quais são fãs, desconstruindo e reelaborando as relações unilaterais de produção cultural existentes até o momento. Dentre essas produções estão as fanfictions. Estas são práticas de escrita criativas, imersas em um universo (ficcional) pré-existente, nas quais seus autores realizam intervenções de ordem diversa, preenchendo lacunas, invertendo acontecimentos ou criando novos, podendo ou não ocorrerem acréscimos e subtrações nesse universo. Esta pesquisa tem o objetivo de analisar as relações dialógicas presentes nesse gênero discursivo e, em particular, os movimentos de carnavalização na fanfiction Un, Deux, Trois, escrita por MB Writer, disponível no domínio online Nyah!Fanfiction, baseada no universo ficcional de Harry Potter. Para essa investigação, tomou-se como fundamento as concepções acerca da cultura de convergência, cultura participativa e cultura de fã, num intercâmbio com os estudos de comunicação sobre cultura de convergência (JENKINS, 2009) e, como pressuposto teórico, a concepção dialógica de linguagem em consonância com as concepções de enunciado concreto, de relações dialógicas e de carnavalização advindas do Círculo de Bakhtin.