AS COMPREENSÕES DO CONSTRUTIVISMO DE ERNST VON GLASERSFELD E JOHN FOSSA: INTERMEDIANDO UM DIÁLOGO EM BUSCA DE NOVAS SIGNIFICAÇÕES
Radical. Educação Matemática. Epistemologia. Ontologia.
A presente tese, orientada por uma carta enviada por Ernst von Glasersfeld a John Fossa, é produto de uma investigação teórica sobre o construtivismo. Na carta, von Glasersfeld tece três considerações sobre a compreensão de Fossa acerca do construtivismo radical. Entretanto, limitamos o nosso estudo à segunda consideração, uma vez que ela lida com algumas das questões centrais do construtivismo. Consequentemente, investigamos quais questões são levantadas pela consideração tecida por von Glasersfeld à compreensão do construtivismo radical de John Fossa e se essas questões são pertinentes para uma melhor compreensão do construtivismo. Para concretizar a investigação, foi necessário caracterizar a abordagem epistemológica do construtivismo de von Glasersfeld; identificar quais questões acerca do construtivismo radical são tecidas pela consideração de von Glasersfeld; investigar se as questões levantadas são pertinentes para uma melhor compreensão do construtivismo e analisar as implicações das questões levantadas para a sala de aula de matemática. Ao fazer um estudo hermenêutico do construtivismo radical, descobrimos que o que é central para ele é sua radicalidade, no sentido que rompe com a tradição por sua ausência de uma ontologia. Assim, defendemos a tese de que a ausência de uma ontologia, embora apresente vantagens para o construtivismo radical, incorre em sérios problemas não somente para a própria teoria, mas também para suas implicações para a sala de aula de matemática. As vantagens que fomos capazes de identificar incluem mudança dos caminhos habituais da filosofia para uma visão racional muito diferente do mundo; superação de uma forma ingênua de pensar; compreensão do sujeito como ativo na construção da sua realidade experiencial; interpretação da cognição como instrumento de adaptação; novo conceito de conhecimento e visão falível (ou provisória) do conhecimento. Os problemas estão relacionados com a impossibilidade de o construtivismo radical explicar adequadamente por que a realidade que construímos é regular, estável, não arbitrária e publicamente compartilhada. Em relação as implicações educacionais do construtivismo radical, a ausência de uma ontologia traz, para a sala de aula de matemática, não apenas certos aspectos relevantes (ou pontos fortes), que fazem do ensino um processo de investigação sobre a aprendizagem do aluno, potencializa ou empowers o aluno para a aprendizagem e muda o design de sala de aula, mas também algumas fraquezas ou limitações. As fraquezas ou limitações do construtivismo na sala de aula são devido à natureza eminentemente subjetiva do conhecimento. Isso requer trabalhar com situações de ensino um-a-um e, do mesmo modo, faz o sucesso do ensino ficar dependente das habilidades individuais do professor. Talvez a mais importante fraqueza ou limitação, nesse sentido, seja a que torna o ensino orientado por princípios construtivistas incapaz de alcançar a formação de uma comunidade. Concluímos que as questões levantadas a partir da consideração de von Glasersfeld são absolutamente relevantes para o contexto de uma melhor compreensão do construtivismo radical e de suas implicações para a educação, em especial, para a educação matemática.