PRÁXIS ECOLÓGICA EM ECOVILAS: ARTICULAÇÃO ENTRE GESTÃO COMUNAL, TRABALHO CONCRETO E ECONOMIA PLURAL
Comunidades intencionais, Ecovila, Trabalho concreto, Economia plural, Racionalidade substantiva, Práxis ecológica.
No capitalismo tudo é mercadoria, inclusive o meio ambiente natural. A degradação dos
ecossistemas e da vida humana é sua consequência imediata. Assim, comunidades
intencionais de motivação ecológica, como as ecovilas, buscam alternativas para tal
situação. Formar-se-ia, então, uma práxis ecológica nesses ambientes. A tese, portanto,
tem como objetivo delinear o conceito de práxis ecológica nos estudos organizacionais
a partir de múltiplas práticas econômicas e dinâmicas comunais de trabalho e gestão em
ecovilas. Emprego a visão marxiana de trabalho concreto, que gera coisas úteis, e
trabalho abstrato, alienante, orientado à produção de mercadorias. Para a dimensão
econômica, pauto pluralidade de interações possíveis abordadas por Karl Polanyi e
Marcel Mauss, incorporando Vandana Shiva na denúncia do modo de vida
contemporâneo em termos de monocultura da mente, em práticas materiais cotidianas e
de relação com o meio ambiente natural e agricultura. Quanto à gestão comunal, a
referência central é Guerreiro Ramos subsidiada por Maurício Serva. Um percurso de
inspiração etnográfica em quatro comunidades intencionais e no Encontro Nacional de
Comunidades Alternativas de 2019, totalizando 57 dias, compôs a coleta de dados
primários. A iniciativa na Comunidade das Formigas, posta em prática no início do
curso de doutorado, motivou a pesquisa e serviu de laboratório para esta tese. Como
resultado do percurso teórico-metodológico emerge o conceito de práxis ecológica
como padrão contra-hegemônico de reprodução da vida que imprime às ecovilas
características organizacionais específicas ancoradas em trabalho concreto, gestão
comunal e pluralidade econômica. Por meio de práticas agrícolas naturais e complexas e
experimentação da vida em comunidade na diversidade, que, idealmente, primam pela
reprodução social e não do capital, a tese sintetiza possibilidades de relações de trabalho
e econômicas distintas daquelas estritamente orientadas ao mercado e ao trabalho
abstrato. Tais fatores apresentam-se como contrapontos à alienação característica do
modo de produção capitalista que degrada, além da natureza, o ser humano em toda sua
complexidade e o enquadra em processos de racionalidade predominantemente
utilitários. A gestão organizacional fundamentada na racionalidade substantiva,
autogerida, por outro lado, alia-se à noção de trabalho concreto e de economia plural
para fornecer suporte ao que denomino de práxis ecológica.