Autoria, singularidade e apagamento em dissertações da Análise do Discurso
Análise do Discurso. Autoria. Singularidade. Escrita plagiária.
Por meio das pesquisas desenvolvidas no mestrado (PINHEIRO, 2021), percebemos que graduandos tinham dificuldade de se posicionarem em relação a textos propostos em sala de aula. A partir dos resultados obtidos na pesquisa, buscamos investigar se essa problemática também permanecia na pós-graduação, em que o sujeito, na posição de pesquisador, precisa construir um texto autoral, no caso uma dissertação de mestrado. Dessa forma, buscamos responder à questão: como os pesquisadores em formação constroem os capítulos teóricos de suas dissertações e como essa escrita impacta suas análises e manifesta a constituição de sua autoria e singularidade na academia? Essa pergunta de pesquisa é base do nosso objetivo geral: Analisar como se constroem e em que se sustentam os capítulos teóricos de dissertações do campo da Análise do Discurso, percebendo como essa escrita impacta suas análises e como os pesquisadores em formação se constituem como autores de seus textos e as nuances entre a construção de uma escrita singular e a escrita plagiária. Por meio desse objetivo, também elaboramos os objetivos específicos: (1) Compreender como os já-ditos perpassam a escrita dos capítulos teóricos e se eles indicam a construção de uma escrita plagiária; (2) perceber como os pesquisadores em formação se constituem como autores de seus textos e como marcam sua singularidade na escrita a partir dos indícios presentes em seus capítulos teóricos; (3) analisar como a escrita dos capítulos teóricos contribuem para construção da autoria e da singularidade nos capítulos analíticos. Norteadas por esses objetivos, analisamos os capítulos teóricos e anlíticos de seis dissertações, três de mestrados acadêmicos na área da Análise do Discurso (D1, D2 e D5) e três do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) (D3, D4 e D6). Realizamos essas análises pautados na Análise do Discurso, a partir de interpretações da teoria pecheutiana (PÊCHEUX, 2014a; 2014b; 1990a; 1990b), e com apoio nos pressupostos sobre autoria de Foucault (2009), Possenti (2002; 2013); a perspectiva de singularidade de Riolfi (2011), de plágio com Schneider (1990), entre outros. A partir dessas lentes teóricas, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa, com viés interpretativista (SILVA; ARAÚJO, 2017), por meio do paradigma indiciário de Ginzburg (1989), isto é, analisamos as dissertações por meio das pistas deixadas pelos textos acerca de suas relações com a própria voz e com as teorias mobilizadas. As análises nos indicam que a construção das dissertações se situa entre o apagamento autoral, em que a voz do autor desaparece para dar lugar aos teóricos mobilizados – em que destacamos as categorias de apagamento de autoria Generalizações” (em alguns dados acrescida da discussão sobre incongruências teóricas); “Expressões de apagamento de autoria”; “Texto rejunte, paráfrases e cópias” (em alguns dados acompanhada do destaque para a defesa de teorias); “Análises superficiais e defesa de uma opinião”– ; e a busca por construir algo próprio, singular, por meio das interpretações dadas às teorias e aos dados analisados – aspecto analisado na categoria “Indícios de autoria”. Esses resultados apontam para uma oscilação entre a necessidade de pertencer à academia, reproduzindo seus modelos e autores costumeiramente citados – e ainda a busca por cumprir a atividade de escrita de forma rápida (e burocrática) – e o despontar de uma escrita autoral, que traga soluções singulares para os problemas de pesquisa.