DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA A SURDO: EMBATES DIALÓGICOS E OBJETIFICAÇÃO COLONIAL NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO IDENTITÁRIA
Surdo. Práticas discursivas. Transição identitária. Embates diálogos. Objetificação colonial.
A educação especial em uma perspectiva inclusiva e os estudos surdos travaram, nos últimos anos, batalhas no campo acadêmico a respeito da pessoa surda. No que se liga à questão social, mais precisamente, muitas foram as abordagens e também inúmeros os enfoques adotados, culminando, inclusive, em terminologias distintas. Alguns dos exemplos já largamente discutidos na literatura científica são o termo "pessoa com deficiência auditiva", em contraposição a "pessoa surda". Quaisquer que sejam as polêmicas em torno da adoção de um ou de outro termo, é fato que as pessoas com deficiência auditiva, estejam elas expostas à língua de sinais ou não, foram deixadas de lado pelos estudos no campo social, motivo pelo qual se encontram tão poucas pesquisas a elas relacionadas. Isto posto, está pesquisa tem como objetivo identificar os embates dialógicos e as formas de objetificação colonial no processo de transição identitária de pessoas com deficiência auditiva. Para tanto, orientamos nossas leituras com base nos estudos sobre: objetificação colonial com Bhabha (1994;1998), Fanon (1961) e Boaventura Santos e Meneses (2009); identidade com Hall (2006) e Bauman (2005), a concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin (1997; 2002), Faraco (2009), Volóchinov (2017), Brait (2005; 2017), Sobral (2019) - divulgadores das discussões do Círculo do Bakhtin - e, finalmente, no que tange à cultura surda com Perlin (2003; 2016), Strobel (2008; 2009), Quadros (2019) e Ladd (2013). Os sujeitos da pesquisa foram seis (6) estudantes surdos do Curso de Letras: Libras/Língua Portuguesa da UFRN. Os dados foram construídos por meio de uma entrevista semiestruturada, em Libras, realizada na configuração de roda de conversa. A partir da análise dos dados emergiram as seguintes categorias: transição identitária, objetificação colonial e embates dialógicos. Ao final, observamos que, os deficientes auditivos usufruem da possibilidade de realização da transição identitária quando entram em contato com a língua de sinais e, por conseguinte, com os surdos. Nesse processo, acentuam-se as forças da linguagem visto que, o alcance do padrão ouvinte pode ser substituído pela(s) identidade(s) surda(s). Entretanto, tais forças continuam em ebulição posto que, na comunidade surda também existem forças de contenção/monologização e resistência/subversão. Diante disso, evocamos a importância de que os jeitos surdos de ser estejam afastados de dicotomias orientadas a normalidade/anormalidade e que possamos desaprender para aprender para que os surdos oralizados possam (re)existir.