O uso dos conectores adversativos “mas” e “só que” na fala do natalense em entrevistas sociolinguísticas
contraste, quebra de expectativa, conectores adversativos, variação
Esta dissertação analisa, à luz da sociolinguística variacionista (LABOV, 1994, 2001a, 2001b, 2008 [1972]; TAGLIAMONTE, 2012, 2016), o fenômeno de variação discursiva entre conectores adversativos MAS – conjunção adversativa prototípica – e SÓ QUE – forma inovadora –, utilizando dados coletados de entrevistas sociolinguísticas pertencentes ao Banco de Dados FALA-Natal, contribuindo para a descrição do português falado no Rio Grande do Norte. Para a delimitação das diferentes funções do MAS e do SÓ QUE, ancoramo-nos na proposta de Longhin (2003), que se baseia nos estudos de Lakoff (1971), Dascal e Katriel (mimeo), e Ducrot (1977, 1981, 1983, 1987). A autora propõe que a indicação de contraste se divide em dois tipos: contraste por oposição e por quebra de expectativa. A quebra de expectativa envolve subtipos: marcação de diferença, marcação de acontecimento inesperado/indesejado, marcação de refutação, marcação de não satisfação de condições e marcação de contra-argumentação. As conjunções MAS e SÓ QUE coocorrem apenas na indicação de contraste por quebra de expectativa, portanto, consideramos essa função e seus subtipos ou microfunções como objeto de nossa pesquisa. Essas conjunções foram analisadas quanto ao sexo do informante (feminino, masculino), à idade (pré-adolescentes, adolescentes e adultos), ao grau de escolaridade (cursando o ensino fundamental I, com ensino fundamental I completo, ensino fundamental II completo e ensino médio completo), à sequência textual (narrativa, descritiva e argumentativa) e à microfunção (marcação de diferença, marcação de acontecimento inesperado/indesejado, marcação de refutação, marcação de não satisfação de condições e marcação de contra-argumentação). Os dados foram submetidos ao programa estatístico GOLDVARB X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Os resultados quanto às microfunções mostraram que o SÓ QUE, variante inovadora na indicação de contraste por quebra de expectativa, foi favorecido nas microfunções mais recentes: marcação de diferença, marcação de acontecimento inesperado/indesejado e marcação de não satisfação de condições, enquanto o MAS foi favorecido na indicação da marcação por contra-argumentação, mais antiga. No que se refere à escolaridade, obtivemos indícios de que o ambiente escolar é responsável por inibir o uso da variante informal SÓ QUE. Os demais grupos de fatores não foram significativos para o processo de variação entre MAS e SÓ QUE.