Banca de QUALIFICAÇÃO: MARIANA MEIRA PIRES SIMONETTI

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: MARIANA MEIRA PIRES SIMONETTI
DATA: 06/08/2012
HORA: 09:00
LOCAL: auditorio de psicologia
TÍTULO:

SER CRIANÇA NA INFÂNCIA CONTEMPORÂNEA HIPER-REALIZADA


PALAVRAS-CHAVES:

subjetividade; pós-modernidade; infância;analítica heideggeriana; fenomenologia.    


PÁGINAS: 84
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

A partir da concepção de infância como construção histórico-social,que remetea indissociabilidade criança-mundo,nesta pesquisa são discutidas características peculiares da pós-modernidade e seus desdobramentos nos modos de ser criança, à luz das ideias do filósofo Martin Heidegger. O século XX, visto como signo da consolidação do progresso técnico e científico e do grande salto para o ciberespaço, lança o homem em um novo contexto, com consequentes repercussões em seu processo de subjetivação. Se, nas civilizações antigas, o homem estava inserido em um contexto de relações sociais bem definidas e relações de poder provenientes das ordens divinas, sendo orientado por elas;na modernidade, a partir do advento da industrialização, o homem passou a se apoiar na noção de propriedade privada e de valorização extrema do seu trabalho como horizontes ao seu modo de ser (Dantas, 2009; Dantas & Moura, 2009). Diante de todos esses referenciais, que caracterizavam um contexto moderno marcado pelo excesso de ordem e escassez de liberdade, era como se o homem tivesse, até a idade moderna, suas possibilidades de serdelimitadas. Foi na contemporaneidade, principalmente com a instituição do trabalho assalariado, que o homem passou a ser mais responsável por si.  Desta forma, livre da rigidez dos valores e modelos das civilizaçõesantigas e modernas, poder-se-ia conceber o indivíduo contemporâneo como um sujeito livre, feliz e realizado (Bauman, 1998; Dantas, 2009). Entretanto, Bauman (2001) assinala que o homem na pós-modernidade tenta buscar novos padrões, códigos e regras que possam servir como pontos estáveis de orientação, e não os encontra exatamente, já que tais referenciais não são mais dados, mas, ao contrário, existem e são muitos, chegando a chocar-se entre si e contradizer-se em alguma medida. Neste novo contexto, evidenciam-se o avanço científico e tecnológico, as novas ferramentas de mídia social,e a ampliação das possibilidades de consumo, dentre outros, como referenciais que afetam o serdo homem, na medida em que o homem pós-moderno pode escolher se sujeitar a esses referenciais, provocando o achatamento da sua heterogeneidade, ou produzir com eles relações livres e criativas, inclusive retirando destes benefícios, gerando novos valores e novas formas de pensar e de agir, viabilizando, assim,uma maior aproximação de si (Miranda, 2005). Diante do exposto, instiga-se refletir sobre as crianças que,como seres históricos e ativos na conjuntura social e econômica (Belloni, 2009; Pinto & Sarmento, 1999; Postman, 1999; Soares, 2005), cursam seu processo de desenvolvimento no cenário pós-moderno. Uma parcela da população infantil compõe o que pode ser denominado de infância hiper-realizada (Narodowiski, 2001), foco dessa pesquisa.  Trata-se de crianças com alto poder aquisitivo, cuja infância é marcada pela realidade virtual, ritmo de vida acelerado, apelo ao consumo, excesso de informações e altas expectativas de desempenho, visando à formação de adultos bem-sucedidos. Tendo em vista algumas discussões na literatura apontando que tais características podem propiciar a essas crianças a vivência de sofrimento psíquico –apelo ao consumismo ocasionando uma falta de individualidade e excesso de atividades deixando as crianças “sem tempo para ser criança”, por exemplo (Furlan &Gasparin, 2003; Meira, 2003 Salles, 2005) –, torna-se importante considerar como a vivência da infância na pós-modernidade está afetando os modos de ser das crianças da infância hiper-realizada. O filósofo Martin Heidegger merece destaque nessa discussão por ter como fundamento de toda a sua investigação exatamente o sentido do Ser, influenciando a psicologia, principalmente, com o que denomina de analítica da existência (Sá, 2010). Nesse sentido, a despeito do lapso temporal e da discussão de Heidegger, em sua maior parte, não ter sido voltada para o mundo infantil,verifica-se ser pertinente relacionar a discussão sobre a técnica moderna feita pelo filósofo (Heidegger, 1953/2007), com a realidade vivenciada pelas crianças da infância hiper-realizada. Ao discorrer sobre a questão da “técnica”,questionando a sua concepção como instrumento e apontando a necessidade de suaessencialização, Heidegger discute alguns conceitos como ser-no-mundo, impessoalidade e cuidado, que se mostram atuais, e podem colaborar na compreensão da vivência das crianças desta pesquisa. Considerando o exposto, o objetivo desse trabalho é compreender o ser criança na infância pós-modernahiper-realizada, buscando-se conhecer os sentidos que essas crianças atribuem a sua vivência de infância. Como objetivos específicos, apresentam-se: conhecer a forma como tais crianças utilizam o tempo, bem como as relações que estabelecem entre passado, presente e futuro (temporalidade); apreender as relações “de cuidado” estabelecidas por essas crianças, considerando o contexto contemporâneo que vivenciam; desvelar, a partir da perspectiva das crianças, as consequências de viver em um contexto de infância hiper-realizada; e relacionar a representação de infância apresentada pela criança (infância pensada) com sua vivência como criança (infância vivida). Para a consecução de tais objetivos, estão sendo selecionados6 participantes, com idades entre 8 e 9 anos, estudantes de escola privada do município do Natal-RN, que atende crianças de classes socioeconômicas média e alta. Ressalta-se que a seleção dos participantes tem sido realizada com colaboração da psicóloga da escola, que indica as crianças a partir da disponibilidade dos responsáveis em autorizar a participação dos filhos.  Tratando-se de uma pesquisa “com crianças”, a escolha dos instrumentos e procedimentos foi baseada em estratégias lúdicas, considerando que essas facilitam a expressão infantil. Ressalta-se que foi realizado um estudo piloto com duas crianças, de 8 anos de idade e, a partir de tal experiência, os procedimentos metodológicos foram aprimorados. Inicialmente, será realizada uma atividade em grupo para estabelecimento do rapport e familiarização com o tema da pesquisa, utilizando-se uma atividade de recorte em revistas sobre a temática “coisas de criança”. No segundo momento, individual, a criança será convidada a completar uma história, ajudando uma personagem fictícia que, vinda de outro planeta, busca entender o que é ser criança; ao final desse encontro, ela será instigada a falar sobre as diferenças entre ser criança e ser adulto. Por fim, será realizada outra atividade individual que terá como tema central, de forma mais explícita, a experiência de cada participante na sua vivência de infância; para isso será proposta uma atividade sobre a temática “rotina real x rotina ideal”, a partir da qual a criança será questionada sobre aspectos diversos do seu ser criança, tais como: forma como utiliza seu tempo, como e com quem se relaciona, uso de recursos midiáticos, dentre outros; ao final desse último momento, será lançada a pergunta “como você acha que vai ser a sua vida quando você crescer?”. Pretende-se, com essas estratégias metodológicas, que serão todas realizadas na própria escola, compreender a vivência da criança no seu presente, bem como suas expectativas com relação ao futuro.O procedimento de análise dos dados será baseado na variante do método fenomenológico proposta por Amedeo Giorgi (1985, 1997), que compreende, neste estudo, os seguintes passos: transcrição dos dados e construção de um texto de referência, discriminação de unidades de significado, compreensão das unidades com base na analítica heideggeriana e síntese compreensiva da experiência. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN e encontra-se na fase de inserção no campo. Foi realizado o contato inicial com a instituição, com preenchimento da carta de anuência, e enviada carta aos pais sobre a pesquisa a ser realizada. Atualmente, os responsáveis pelas crianças estão sendo contatados para autorizarem a participação dos filhos.


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - MARIO SERGIO VASCONCELOS - UNESP
Externo à Instituição - NADIA MARIA RIBEIRO SALOMÃO - UFPB
Notícia cadastrada em: 02/08/2012 18:00
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