CARTOGRAFANDO A FANTASIA: A identidade regional da Nova Inglaterra representada nas cartografias literárias de horror de H. P. Lovecraft (1912 – 1930).
Paisagens do Medo; Cartografia Literária; Nova Inglaterra, Xenofobia, Anglo-Saxonismo.
Monstros e criaturas fantásticas que fogem a compreensão humana são elementos literários marcantes nas narrativas de Howard Phillips Lovecraft (1890 – 1937). Classificado como autor do gênero do insólito ficcional, a sua fantasia confere uma reconstrução da identidade estadunidense nas primeiras décadas do século XX. Para causar o medo e a repulsa com visões deformadas acerca do Outro – povos não-teutônicos – seja por meio de cartas, artigos de jornal ou nos monstros em narrativas ficcionais, Lovecraft revela um sentimento xenófobo, de cunho racista, contra o fluxo migratório dos diversos povos que passaram a habitar a Nova Inglaterra - região idealizada pelo autor como a única detentora da verdadeira essência dos Estados Unidos. Através dos conceitos geográficos de lugar e paisagem do medo, Yi-Fu Tuan (2005; 2013) apresenta como os indivíduos se apropriam e recriam espaços a partir da experiência. Somado com o método da cartografia literária de Robert Tally (2013) evidencia-se como o escritor, tal como o cartógrafo, utiliza de vários artifícios imaginários, baseados nas percepções da própria vivência, para criar mapas simbólicos que representam a realidade. Assim, observa-se que Lovecraft reconstruiu o significado da região em que habitou usando suas próprias experiências, sensoriais e afetivas; como ocorreu em diversos escritos– narrativas ficcionais, epistolares e artigos em periódicos – utilizando-se do imaginário histórico para ressignificar a identidade cultural estadunidense.