DA ILHA-BRASIL À ASPIRAL ASCENDENTE:
Os espaços de representação da identidade paulista nos festejos do IV centenário do aniversário da cidade de São Paulo (1947 – 1954)
Ressentimento; Identidade Paulista; Cena Histórica; Narrativa Historiográfica; Festejos Comemorativos;
A organização de festejos comemorativos expõe como agentes grupos sociais que são criadores da narrativa histórica – preservando a memória, silenciando ou esquecendo - que ressignifica sua própria identidade cultural. Permeados por sentimentos e emoções, esses agentes transformam as representações de seus espaços em novas formas de vivências espaciais, tal como ocorreu em São Paulo entre os anos de 1947 até 1954. Ressentidos pela exclusão política causada desde a Revolução de 1930 - a elite econômica ligada ao Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) e o grupo político do Partido Social Progressista (PSP) - idealizaram as comemorações do IV Centenário da capital paulista à luz de uma nova ressignificação identitária para representar todo espaço da região. Ao longo de quase meia década, o cargo da chefia para promover as comemorações foi digladiado entre a elite paulista e outros grupos – políticos dissidentes e intelectuais universitários - que observaram no evento uma forma de ganhos de capital – seja político ou econômico – para seu grupo social. Através dos discursos desses grupos diversos forma-se um cenário historiográfico, no qual, em especial a atuação dos bandeirantes – símbolo identitário paulista – será alvo de profundos debates entre distintos representantes dos grupos que disputavam sobre as narrativas acerca dos festejos comemorativos. Fundamentado sobre a metodologia tropológica, sugerida na Metahistória de Hayden White (1992), observa-se como o discurso historiográfico distancia-se por meio de distintos espaços sociais – e visões ideológicas políticas - em que os historiadores se encontram inserido na sociedade. Distanciando-se das narrativas historiográficas paulistas da década de 1920, em que se buscava uma aproximação entre a região de São Paulo ao Brasil, os conceitos cartográficos da Ilha-Brasil – debatidos ao longo da Querela Bandeirante entre o historiador lusitano Jaime Cortesão e o historiador paulista Sérgio Buarque de Holanda - e a escultura da Aspiral Ascendente - construída no Parque do Ibirapuera por Oscar Niemeyer – ressignificaram a identidade paulista contemporânea por meio de uma uma apoteose regional, esquecendo e silenciando a identidade de outrora fundamentada apenas como uma região da espacialidade territorial brasileira.