Ecologia comportamental de Mabuya agmosticha (Squamata, Mabuyidae) associada à bromélias rupícolas (Encholirium spectabile) em área de caatinga no nordeste do Brasil
Comportamento de lagartos, interação animal planta, etograma, semiárido, afloramentos rochosos.
Para que uma espécie obtenha sucesso, uma gama de comportamentos são desempenhados, cada um com uma finalidade, sempre levando em consideração a maximização do ganho energético e a diminuição dos custos. O habitat em que a espécie vive norteia seus comportamentos, sendo boa parte destes voltados ao modo de vida nesses locais. Bromélias constituem habitats importantes para muitas espécies. Dentre estas encontra-se Mabuya agmosticha, uma espécie de lagarto da família Mabuyidae, de hábitos bromelícolas e endêmica do Nordeste do Brasil. Este estudo abordará a ecologia comportamental de M. agmosticha em associação com as bromélias rupícolas (Encholirium spectabile), na região Agreste, município de Santa Maria, Rio Grande do Norte, Brasil. O trabalho está sendo realizado mensalmente, com expedições de quatro dias consecutivos, onde observamos os comportamentos da referida espécie em associação com as bromélias. Com relação ao uso dos microhabitats, M. agmosticha usou basicamente as folhas verdes (52.25 %) e folhas secas (47.75 %), não havendo diferença significativa no uso das bromélias. Não houve diferença entre machos e fêmeas na utilização das bromélias, nem entre adultos e juvenis. Uma média de 2.9 ± 1.2 indivíduos foram observados por touceira, na sua maioria um macho e uma fêmea. M. agmosticha apresentou preferência pelos horários iniciais (36.3%) e finais do dia (33.6%), porém permaneceu ativo durante todo o dia. A maioria dos individuos (62.8%) permanece com as laterais voltadas para o ângulo de incidência dos raios soloras nas horas iniciais do dia, mudando a medida que a temperatura aumenta. A dieta de M. agmosticha é composta basicamente de pequenos artrópodes, com evidências do consumo de pouco material vegetal, e nenhuma presa vertebrada. Térmitas compõem 23.63% da dieta, seguido por aranhas e baratas. Não houve diferenças sazonais significativas na dieta, seja por volume ou por número de presas ingeridas. M. agmoscticha apresenta uma dependência das bromélias rupícolas e a possível perda destas bromélias levará a diminuição das populações e consequentemente a extinção desta espécie em níveis regionais, necessitando estes de política socioambientais visando a conservação de ambos os grupos envolvidos.