Potências do falso e o devir dos povos sujeitados
Gilles Deleuze; sensível; potência do falso; devir; imagem de pensamento.
O problema do pensamento perpassa a filosofia de Gilles Deleuze: o que significa pensar? Como se dá o pensamento? Para o filósofo, dentro da história da filosofia, tais perguntas são tidas como pressupostos que asseguram seus próprios fundamentos. O pensamento aparece como algo natural, isto é, naturalmente inclinado ao verdadeiro e a uma boa vontade do pensador. Mas o que escondem tais pressupostos? O que deseja o homem da verdade? Deleuze encontra na história da filosofia uma imagem dogmática do pensamento. O homem da verdade projeta valores superiores à vida, a partir dos quais julga a vida. “Se alguém quer a verdade, não é em nome do que o mundo é, mas em nome do que o mundo não é” (Deleuze, 2018, p.124). A diferença é enterrada sob o modelo do Mesmo, ou do si-mesmo. A europeização como condição desses valores superiores tem suas consequências não só ontológicas, mas também políticas. Constitui-se como a história do capitalismo que impede o devir dos povos sujeitados. O sensível aparece como “fundo” de produção do pensamento contra uma imagem dogmática e conservadora. A partir do sensível o pensamento se aproxima de seus processos múltiplos de expressão. A potência do falso faz ver que para além dos valores do verdadeiro ou falso há um jogo vital de uma atividade genérica de produção de sentido. Movimentos da diferença ditos em termos de devires e afectos permitem passar dos limites representacionais, e pretendem lidar com um conteúdo não-representacional da experiência – as intensidades. A potência do falso é a potência da vida em seu devir próprio, criando linhas de fuga diante do poder da verdade que é sempre dos dominantes e do colonizador.