COMPREENSÃO ORAL DA LEITURA EM CRIANÇAS COM AUTISMO: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Autismo, compreensão oral da leitura, intervenção precoce, família.
Ler é uma habilidade fundamental para o sucesso na vida escolar e adulta. Para muitos indivíduos, os processos de decodificação da escrita e a compreensão leitora se desenvolvem paralelamente. Para outros, esses processos são dissociados, como é o caso de alguns educandos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que apresentam habilidades de decodificação da escrita superiores à compreensão leitora. Esses prejuízos podem acarretar dificuldades na aprendizagem. Nessa perspectiva, é fundamental o desenvolvimento de programas interventivos de leitura que possam minimizar, precocemente, os problemas de leitura evidenciados nessa população. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos de uma adaptação do programa de intervenção leitora denominada RECALL (Reading to Engage Children with Autism in Language and Learning) na compreensão oral da leitura de indivíduos com TEA. Participaram desta pesquisa uma criança com autismo, de 6 anos de idade e seu cuidador. O estudo, desenvolvido utilizando um delineamento intra-sujeitos do tipo A-B (linha de base-intervenção) Follow-up, teve num primeiro momento como variável independente o programa de capacitação e como variável dependente o uso das estratégias adaptadas do Recall por parte do cuidador. Em seguida, o uso das estratégias adaptadas do Recall se configuraram como variável independente e as respostas da criança como variável dependente. O cuidador participou de um programa de capacitação, onde aprendeu a fazer uso de diferentes estratégias interventivas com vistas a ampliar a compreensão oral da leitura da criança, aplicando-as em seguida, durante as rotinas de leitura em sua residência. As sessões foram videografadas e a frequência no uso das estratégias do programa por parte do cuidador e dos turnos comunicativos da criança (iniciativas e respostas) foram contabilizados. Uma análise qualitativa foi adicionalmente realizada. Os resultados evidenciaram ganhos quantitativos (aumento da frequência) no uso de algumas estratégias do programa adaptado do Recall por parte da mãe e ganhos qualitativos. Com relação à criança, os resultados mostraram ganhos qualitativos (engajamento na atividade) e, em menor magnitude, ganhos quantitativos (aumento de respostas corretas para algumas das estratégias do programa adaptado do Recall). Contribuições e limitações do estudo são discutidas.