PEDAGOGIAS DA CORPORALIDADE E O CUIDADO DE SI: Corporalidade, experiência religiosa e o exercício de si na Igreja Verbo da Vida
Neopentecostalismo; Pedagogias da Corporalidade; Cuidado de Si; Experiência Religiosa; Performance.
Como objetivo central desta tese verificamos se o modelo de corporalidade da Igreja Verbo da Vida (IVV), que têm como intenção a ação do Espírito Santo nos corpos dos fiéis, resulta no exercício de um cuidado de si que se integra ou não aos regimes corporais institucionais que regulam o uso do corpo. Para isso, analisamos as pedagogias da corporalidade exercitadas na IVV, observando nas celebrações o conjunto de técnicas corporais que são transmitidas pelos pastores e ministros por meio de suas performances discursivas e corporais nos cultos, bem como analisamos as experiências dos fiéis ao adquirir as formas de usar a corporalidade. Assim, levantamos dados acerca da concepção de líderes e fiéis da comunidade selecionada sobre a corporalidade, aqui definida enquanto lugar de enunciação dos mecanismos de normatização do uso do corpo nas celebrações e no cotidiano. A perspectiva teórica que utilizamos foi fundamentada na abordagem da pedagogia da corporalidade, e no conceito de cuidados de si, de Foucault. A pesquisa teve caráter qualitativo, e para a sua realização foram utilizadas a observação direta, entrevistas informais não estruturadas e entrevistas semi-estruturadas com amostra não aleatória de fiéis. Ao observarmos os pastores e ministros da IVV mobilizando e estimulando os fiéis para o uso da gestualidade no culto, verificamos que estes, na busca de serem “instrumentos do Espírito Santo”, sentindo a “manifestação da unção” em seus corpos, ativam um conjunto de técnicas corporais. Nas entrevistas com os membros da IVV, não constatamos um possível cuidado de si que abrisse possibilidades de ruptura com os regimes corporais institucionalizados. Pelo contrário, o trabalho de si efetuado pelos fiéis entrevistados, no culto e no cotidiano, conduz a uma transformação de si, do seu corpo, de acordo com os regimes corporais da referida instituição. Nisto, os fiéis são levados a correr, a dançar, a pular, a falar em línguas estranhas, bem como a se abraçarem e “declararem a palavra” nos momentos mais adequados possíveis, demonstrando publicamente o que fazem para serem “instrumentos de Deus”, se sujeitando às lideranças e às percepções corporais que narram como orientações do Espírito Santo.