Liberalismo contra democracia: fundamentos antidemocráticos do liberalismo antigo e novo
Democracia; Liberalismo Clássico; Neoliberalismo.
É absolutamente polêmica a discussão em torno da relação entre democracia e liberalismo. Durante todo o século XX foi amplamente vitoriosa a versão segundo a qual a democracia moderna é o grande mar onde inevitavelmente desaguaria o liberalismo político, entendido como projeto político emancipatório conquistado na modernidade. Democracia e liberalismo seriam, assim, elementos inseparáveis, condenados a uma existência comum. Essa versão não nos parece correta. O percurso histórico que trilhou o liberalismo, a agenda de classe que representa desde sua origem e a cosmovisão que ajudou a formular o põem em campo diferente daquele ocupado pelo projeto democrático. Tanto o liberalismo clássico quanto a teoria neoliberal operam verdadeiro encurtamento do alcance da soberania popular a partir da exclusão ou da mitigação da participação das classes não proprietárias, diminuindo o poder da cidadania sobre o mercado. Além disso, o liberalismo antigo e o novo ignoram ou rebaixam o problema do conflito político oriundo do choque entre irreconciliáveis interesses de classe, que aparecem nas teorias liberais como mera competição entre indivíduos e grupos com interesses particulares. Analisaremos nesse trabalho como esses elementos constituem, na teoria política liberal, uma perspectiva antidemocrática de exclusão das classes populares e de manutenção de privilégios das elites proprietárias nos marcos da sociedade capitalista.