Ergonomia. Segurança do paciente. Eventos adversos. Maqueiros. Transporte de pacientes.

Atualmente, a segurança do paciente tornou-se uma preocupação de âmbito mundial, compreendendo uma gama de aspectos a considerar, para assegurá-la, tais como cirurgia segura, identificação do paciente, higienização das mãos, prevenção de quedas, uso seguro de medicamentos, ambiente seguro de cuidado, entre outros, tornando mais complexo o conhecimento e o controle de todas essas variáveis, quando se trata do gerenciamento dos sistemas de atendimento de pacientes, como hospitais, maternidade, entre outros. A segurança do paciente, assim como as causas dos eventos adversos (EAs) e suas consequências, em maior ou menor grau, têm relação com a qualidade das instalações e de equipamentos, dos serviços prestados, do dimensionamento de pessoal para realização dos serviços, da jornada diária e semanal de trabalho, da densidade ou intensificação do trabalho, da complexidade do quadro clínico dos pacientes, da remuneração dos profissionais, da gestão da segurança e saúde do trabalhador, da gestão da infecção hospitalar, entre outros. Neste contexto, o transporte e transferência de pacientes no ambiente intrahospitalar expressa preocupação devido à frequência com que ocorre, à sua complexidade, dados os aspectos envolvidos, como citado anteriormente, e às possíveis ocorrências de eventos adversos correlatos a estas atividades, que são realizadas pelos maqueiros. No entanto, há uma escassez de pesquisas que os consideram como uma barreira importante para a ocorrência de EAs. A ideia de segurança, conforme preconizada por Hollnagel, na abordagem Safety II, ressalta a importância de se analisar o trabalho como é realmente feito ou realizado (“work as done-WAD”), diferentemente de analisar o trabalho como foi imaginado ou prescrito (“work as imagined-WAI”), como é a abordagem Safety I. A abordagem Safety II valoriza o conhecimento e experiência dos trabalhadores, que nesta pesquisa são os maqueiros, pois consideram que eles devem conhecer o trabalho em si que realizam e como e por que as coisas dão certo (“go right”). Diferentemente da abordagem Safety I, que centra nas coisas que não dão certo (“go wrong”); nos acidentes, nos riscos do trabalho, por exemplo. O trabalho real do maqueiro é muito mais do que transportar o paciente de um local a outro. Consiste em transportar e fazer transferência com eficiência e segurança, e isto reúne aspectos tecnológicos e organizacionais, condições de saúde do paciente e condições de saúde e estratégias cognitivas do próprio maqueiro, para evitar eventos adversos. A Ergonomia se apresenta, neste contexto, como um campo científico fundamental para se compreender o trabalho do maqueiro, se formular um diagnóstico da sua atividade e se estabelecer indicações de melhoria da atividade dos maqueiros e das unidades de saúde que cuidam de pacientes, visando a segurança destes durante a atividade de transporte e transferência do paciente. Assim, o presente trabalho tem como objetivo central analisar a atividade dos maqueiros da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC), localizada na cidade de Natal-RN, visando identificar os determinantes dessa atividade laboral que impactam na segurança dos pacientes. Pretende-se, com isso, indicar medidas de melhoria da atividade dos maqueiros, que minimizem as possibilidades de ocorrência dos eventos adversos, ou as vulnerabilidades associadas à atividade, e aumentem a segurança do paciente. Para tanto, será adotado o método situado da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que se caracteriza por aplicar técnicas observacionais e interacionais e por adotar uma abordagem participativa e negocial com os sujeitos interessados na solução dos problemas em foco. Os resultados preliminares da pesquisa demonstram que os maqueiros, ao realizar suas atividades, se defrontam com contrantes físicos, devido às características das instalações físicas (degradação de equipamentos, layout inadequado, ausência de elevador de acesso à unidade B2, entre outros) da MEJC e dos equipamentos utilizados. Defrontam-se, também, com contrantes temporais (urgência do transporte, alta demanda x baixo número de efetivos, alta demanda x equipamentos disponíveis etc.). Para garantir a eficiência e a segurança do serviço prestado, os maqueiros realizam regulações, frequentemente, que consistem no desenvolvimento de estratégias e ações, tais como contar com auxílio de terceiros para realizar certas transferências e transportes de pacientes, e fazer antecipações com previsões de demanda de chamados ao se depararem com fluxos intensos em determinados períodos e dias da semana. Essas regulações têm como objetivo atenuar ou eliminar os contrantes e as variabilidades incidentais, facilitando a execução das ações (transporte e transferência do paciente), de forma eficiente e segura, minimizando, assim, a ocorrência de eventos adversos correlatos.