O Jogo de Foucault — Experiências do pensamento e verdade
Genealogia; desejo; narrativas; jogo; psicanálise.
O interesse de Foucault pela psicanálise é coisa antiga, embora nem sempre explícita. Em 1976 o autor lança A Vontade de saber, o primeiro volume de sua História da Sexualidade. Nessa ocasião, apresenta uma série de hipóteses inéditas a respeito da sexualidade e do desejo que vão de encontro com a história oficial da psicanálise freudiana. Mudanças significativas ocorreram no projeto inicial desse trabalho, mas sua principal tese, a saber, a da historicidade do desejo, permaneceu. E é em torno do problema da inscrição discursiva da noção de desejo no Ocidente que o filósofo propôs um jogo a seus contemporâneos, mas, em especial, aos psicanalistas, para quem tal noção é central. O jogo consistia em fazer, cada um dos participantes, sua própria genealogia do desejo e ver no que daria. Mas qual o propósito desse “Jogo de Foucault”? Primeiro: o filósofo recorre à noção de “experiência” para designar, no contexto da pesquisa e da escrita, uma experiência transformativa do sujeito a partir do pensamento, uma experiência da qual não sairia o mesmo. Segundo: sua pesquisa sobre o desejo o conduziu a uma genealogia da ética através do quadro teórico de importantes práticas e técnicas de transformação do sujeito. Ao que parece, o próprio Foucault não saíra o mesmo dessa experiência. Pretendia, portanto, mais do que convencer aos outros a aceitarem suas teses genealógicas, incitar-lhes a fazer o mesmo, pois só assim a experiência atingiria todo seu potencial. Apresentaremos na primeira parte desse trabalho um mapeamento do conceito de jogo e sua articulação com a filosofia; também interrogaremos a razão de ser de práticas discursivas prescritivas de períodos históricos distintos e explicitaremos algumas aproximações dos resultados da pesquisa foucaultiana com a prática do psicanalista. Tudo isso para a) demonstrar que o jogo fora efetivamente proposto; b) formular suas regras; e c) considerar suas implicações. Nos apoiaremos para isso na História da Sexualidade (quatro volumes), em cursos do Collège de France e em textos dos Ditos e Escritos.