PEER EFFECT E EMPREENDEDORISMO: ENSAIOS EMPÍRICOS SOBRE O EFEITO DOS PARES NA PROPENSÃO A EMPREENDER
Empreendedorismo. Peer Effect. Network Analysis. Variável
Instrumental.
A experiência escolar proporciona um intercâmbio sociocultural no qual indivíduos em
formação compartilham experiências, costumes e comportamentos com aqueles que
estão ao seu redor (Falck, Heblich & Luedemann, 2012). Em uma perspectiva sobre
decisão de carreiras, a literatura aponta que ter pares empreendedores afeta
positivamente a propensão a empreender. Os principais canais de transmissão social do
comportamento empreendedor são a difusão de oportunidades de negócios e o potencial
desenvolvimento de habilidades empreendedoras através do contato com indivíduos que
exercem a atividade empresarial (Kacperczyc, 2013; Field, Jayachandran, Pande &
Rigol, 2015). Desse modo, o presente estudo tem como objetivo estimar o efeito dos
pares sobre a decisão de um indivíduo se tornar empreendedor. Para tanto, foram
utilizados dois designs metodológicos. O primeiro foi conduzido através do modelo de
Regressão Probit em dois Estágios (IV Probit). A amostra foi composta por 10889
estudantes de uma Instituição de Ensino Federal. Os dados abrangem o período de 2001
a 2010. A variável dependente desta modelagem é categórica, sendo atribuído o valor 1
caso o indivíduo tenha se tornado empreendedor em até cinco anos após concluir o
curso realizado na instituição. Como variável de interesse, foi utilizada a fração de
empreendedores da sala de aula “j” de um indivíduo “i”, excetuando o próprio
indivíduo. Foram utilizados como controles variáveis relacionadas aos fatores pessoais,
sociais e econômicos dos estudantes. Os resultados do primeiro ensaio apontam que
possuir colegas de turma empreendedores afeta positivamente a propensão ao
empreendedorismo. Já o segundo ensaio desta tese utilizou uma abordagem
metodológica baseada em Network Analysis (Jackson, 2010) para estimar com maior
aprofundamento quem são os pares de um indivíduo e como influenciam a decisão de
empreender. Para tanto, foi aplicado um instrumento de pesquisa junto a 287 estudantes
de um Instituto de Tecnologia. O questionário abordou 47 questões distribuídas entre as
dimensões “Interação com os Pares”, “Intenção Empreendedora”, “Norma Subjetiva”,
“Controle Comportamental Percebido”, “Medo de Falhar” e “Aversão aos Riscos”.
Após a identificação dos pares via Network Analysis, foram estimados modelos de
Regressão 2SLS e Regressão IV Probit para identificar o efeito dos pares. A variável
dependente foi o Índice de Intenção Empreendedora de Liñán and Chen (2009),
composto por 5 questões mensuradas em escala de 1 a 10. Já a variável de interesse foi
o caminho geodésico até um empreendedor, que considerou a menor distância de um
indivíduo “i” até um indivíduo “e” empreendedor. Foram utilizadas uma série de
variáveis de controle que abrangem características pessoais, sociais, comportamentais e
traços empreendedores. O segundo ensaio identificou resultados semelhantes ao
primeiro, além de verificar que o efeito dos pares é potencializado caso o indivíduo
focal tenha amigos empreendedores, trazendo evidências empíricas de que as conexões
entre indivíduos, e não a mera participação em um grupo, deve ser levada em
consideração na identificação do efeito dos pares.