- CORPO-KALUNGA: FLUXOS MEMORIALÍSTICOS E IDENTITÁRIOS EM UM DEFEITO DE COR, DE ANA MARIA GONÇALVES
Literatura negro-brasileira. Um defeito de cor. Memória. Identidades. Sujeito diaspórico.
1. Em Um defeito de cor (2006), da escritora brasileira Ana Maria Gonçalves, acompanhamos a trajetória memorialística de Kehinde/Luiza, como legado ao seu filho Omotunde/Luiz Gama. O seu corpo-memória pulsa em trabalho de luto. Nas nuances do processo de busca por seu filho, que não se finda, a narradora-protagonista, ex-escravizada, revela ao leitor o movimento simultâneo de uma busca por si. Assim, esta pesquisa tem como objetivo analisar a construção dos interpenetrados fluxos memorialísticos e identitários da protagonista Kehinde/Luiza, em diálogo com o movimento diaspórico negro. Fundamentamos a nossa análise em Abdias Nascimento (2016), Luciana Brito (2018) e Mônica Lima e Souza (2008), teóricos que suscitam diálogos acerca da diáspora negra e da escravidão no Brasil. Para a categoria analítica de memória, fundamentamo-nos em Leda Maria Martins (2003), Paul Ricoeur (2007) e Roland Walter (2011). Para a categoria analítica de identidade, fundamentamo-nos em Frantz Fanon (2008), Paul Gilroy (2012), Stuart Hall (2013; 2014) e W. E. B. Du Bois (2021). A partir da análise até então empreendida, observamos que a protagonista, em seu fluir narrativo, emerge travessias identitárias, reflexo da experiência do sujeito diaspórico com encontros culturais múltiplos, ora justapostos ora confrontados. Em errância contínua, a memória inscrita representa reconciliação com a perda de si e dos seus.