Morfologia e função ecológica de lenticelas em espécies arbóreas da Caatinga
Alternância estrutural; camada de oclusão; anatomia do caule; mudanças sazonais; anatomia funcional; felogênio;crescimento secundário;anatomia da cortiça;anatomia da lenticela
Durante o crescimento primário, a epiderme reveste o corpo da planta, e suas células tabulares, justapostas e cuticularizadas, dividem espaço com os estômatos, responsáveis pela realização de trocas gasosas no primeiro estágio de desenvolvimento da planta. Em espécies lenhosas (i.e. apresentam crescimento secundário), a epiderme é substituída pela periderme, composta pelo felogênio, que produz feloderme para o interior e felema (ou súber) para o exterior, formando o tecido de cortiça. Os estômatos, por sua vez, são substituídos pelas lenticelas ainda na presença de epiderme. As lenticelas são estruturas semelhantes a poros, originadas sob os estômatos em locais onde o felogênio apresenta uma atividade meristemática mais intensa. Ao contrário das células da cortiça, compactamente arranjadas e de paredes suberificadas, as lenticelas são constituídas de células de formato arredondado e paredes delicadas, organizadas de maneira frouxa, sendo caracterizadas pela presença de amplos espaços intercelulares em meio as células justapostas da cortiça. A estrutura característica das lenticelas está diretamente relacionada com suas funções conhecidas, com os espaços intercelulares permitindo uma alta permeabilidade ao ar, vapor de água, aerossóis, além de contribuir para a transpiração. Estas estruturas estão presentes em uma variedade órgãos e espécies de plantas terrestres, apresentando diferentes adaptações que auxiliam o estabelecimento dos indivíduos diante de diferentes condições ambientais. A morfologia das lenticelas varia entre as diferentes espécies lenhosas nas quais ocorrem, e sua função ecológica ainda é discutida. Essa variação, alinhada a características do caule, permite que as lenticelas auxiliem na identificação de espécies lenhosas. Sabendo que a maioria dos estudos sobre lenticelas se concentram em florestas de ambientes temperados, essa dissertação busca discutir um pouco sobre a morfologia, estrutura funcional e influência das lenticelas na sobrevivência de comunidades plantadas em ambientes secos, estando dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo tem o objetivo de descrever a morfologia interna e externa das lenticelas e caule de 14 espécies lenhosas da Caatinga, de maneira a retratar possíveis padrões morfológicos e separá-las em tipos funcionais. Foram coletadas amostras de indivíduos para cada espécie e preparadas lâminas histológicas para descrição anatômica. Adicionalmente, as lenticelas foram analisadas através de microscopia eletrônica de varredura e material fresco para descrições da morfologia externa. Encontramos que há uma diferença entre as características morfológicas das lenticelas, assim como do caule, demonstrando o potencial dessas estruturas para identificação de indivíduos na ausência de flores, frutos e folhas. Também observamos dois padrões de alternância estrutural nas lenticelas, sugerindo que espécies distintas podem adotar estratégias diferentes dependendo das condições ambientais. O segundo capítulo busca investigar como as lenticelas podem influenciar na sobrevivência de indivíduos pertencentes a 14 espécies na Caatinga através de comunidades plantadas com diferentes diversidades. Para isso, foram coletadas amostras de indivíduos para contagem do número e área das lenticelas em laboratório. Os dados de sobrevivência foram coletados em experimento em campo com 4704 mudas de 16 espécies nativas divididas em 147 comunidades, com 5 níveis de diversidade. Calculamos se há diferença entre número e área média de lenticelas entre as espécies através de modelos lineares generalizados e construímos um modelo linear generalizado misto para entender ser a característica funcional das lenticelas influencia na sobrevivência das comunidades ao longo do tempo. O número de lenticelas diferiu entre as espécies, entretanto a área média só foi significativamente distinta em uma espécie. Já com relação a sobrevivivência nas comunidades, houve uma variação dependendo da interação entre o número de lenticelas e o ano observado.