LUGAR DE ESCUTA, LUGAR DE FALA FEMININA INTERIOR: uma imersão performática a partir do mito-guia Bia Mulato
Energia Ânima, Ritos de Passagem, Mitodologia em Arte, Bia Mulato.
Ao redor do mundo, enquanto pesquisadores buscavam respostas sobre os fenômenos que há no universo exterior,
C. G. Jung (2000), psiquiatra suíço, realizava uma pesquisa inversa, questionando-se acerca dos fenômenos em nosso interior. Jung dedicou parte de sua vida a esta pesquisa e assim descobriu que no interior masculino há uma dimensão do feminino em contínua retroalimentação. Para nomear esta dimensão feminina, apropriou-se da palavra Ânima, que se pode traduzir por Alma e é oriunda do latim. Segundo Jung, para além da instância religiosa que a palavra evoca, a alma (ânima) nada mais é do que as imagens arquetípicas do eterno Feminino na consciência do homem. Integrado a esta proposição junguiana como pesquisador, desde 2013, inaugurei uma busca por processos de criação nas artes da cena que tivessem como mote a provocação desta dimensão anímica em mim, desancorando figuras femininas que se encontrassem em meu interior. Ao longo de investigações corporais por cerca de cinco anos, no contexto da graduação em Teatro da UFRN, desemboquei na figura da minha avó materna, Bibiana Maria da Conceição, conhecida como Bia Mulato. Pois é justamente a figura da cabocla Bia, cuja história de luta e resistência remonta significativos ritos de passagem (GENNEP, 2011), em episódios de violência, prostituição e busca de liberdade, que vai conduzir este trabalho dissertativo. Estimulado em laboratórios de criação pela Mitodologia em Arte, um complexo de procedimentos de criação de cunho ritualísticos e míticos desenvolvidos pela Profa. Dra. Luciana Lyra (2011; 2015), adentrei em experiências corporais que vem destampando impulsos anímicos, os quais me afinam com minha avó, na provocação de um lugar de escuta entre gerações, que, a um só tempo, desemboca no fenômeno da fala pela via da cena.