A PRODUÇÃO DE GÊNEROS ACADÊMICOS DE GRADUANDOS DA UFRN: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DA ESCRITA MOBILIZADORA DE CONHECIMENTO
Escrita acadêmica; Movimentação de escritas; Escrita mobilizadora; Efeitos discursivos.
Neste trabalho, buscamos fazer uma investigação sobre a escrita acadêmica produzida por alunos em nível de graduação. Partimos das seguintes indagações: há uma regra modelar e fixa para a escrita dos gêneros acadêmicos estudados na graduação? Como as produções escritas de alunos graduandos materializam a voz alheia e como essas vozes são movimentadas de um texto para outro, de modo a produzirem traços de escritas mobilizadoras de conhecimento? Nossa hipótese é de que não há uma estrutura modelar – ou seja, uma forma fixa – para a escrita dos gêneros acadêmicos estudados na graduação. É possível que isso ocorra porque, ao produzir os textos, os alunos são estimulados a dominar o aspecto estrutural dos gêneros, sem que seja oferecido um ensino que possibilite, por meio de uma prática de escrita, a incorporação e a apropriação de um conhecimento já produzido, exemplo: modificar o conteúdo do texto de uma versão para outra através de reescritas orientadas. Traçamos como objetivo maior, compreender a maneira como a voz alheia é incorporada e apropriada ao ser movimentada de um texto para outro, de modo a produzir traços de escritas mobilizadoras de conhecimento. Para isso, intentamos: I. Analisar como se dá o processo da escrita mobilizadora de conhecimento por meio dos textos produzidos pelos alunos em diversas versões; II. Descrever e analisar a relação que o aluno de graduação estabelece com a palavra alheia nas suas produções escritas por meio da análise de operações linguístico-discursivas de citação, paráfrase e alusão; III. Observar se/como o fichamento, o resumo e a resenha apresentam traços de uma escrita mobilizadora de conhecimento; e IV. Identificar e examinar os recursos linguísticos e discursivos que indicam o que é necessário para que um gênero acadêmico seja considerado uma produção que expressa um conhecimento da parte de quem o produziu. Utilizamos como base teórica os fundamentos de Pêcheux (1997) para pensar na noção de forma-sujeito; de Maingueneau (1997), com as formas do discurso relatado; de Fuchs (1985), com a paráfrase linguística; e Authier-Revuz (1990; 2004; 2007) para focalizar as formas de alusão ao discurso outro. Esta pesquisa tem caráter descritivo-interpretativista, baseado no paradigma indiciário de Ginzburg (1989). Foram recolhidas as produções escritas de 15 alunos matriculados em uma disciplina de Leitura e Produção de Textos Acadêmicos, dos variados cursos de Letras, da UFRN, produzidos durante o semestre suplementar (2020.6), e coletadas as várias versões dos textos produzidos. Esses, possuindo mais de um gênero - a saber, fichamento, resumo e resenha - e mais de uma escrita do mesmo texto. Para as análises, seguiram-se duas abordagens: a primeira de base comparativa, procurou-se mostrar as movimentações e mudanças corridas de uma escrita para outra. E a segunda de modo qualitativo, utilizando as formas de citação, paráfrase e alusão. Os resultados preliminares denotam que, nas comparações entre um primeiro momento de escrita e outro, os graduandos se assujeitam às formas de menção ao discurso outro para não se desviarem das orientações. Existe a procura em seguir a forma estrutural do gênero, no entanto, é observando as mudanças ocorridas nas reescritas que a escrita mobilizadora começa a transparecer como um efeito discurso pelos modos de retomar a voz do outro, seja durante a (re) escrita do fichamento, do resumo ou da resenha.