QUE DIFERENÇA DA MULHER O HOMEM TEM? – EROTISMO E PORNOGRAFIA EM MARIA TERESA HORTA E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Literatura Erótica. Gêneros. Representações sociais. Pornografia.
A presente pesquisa tem como proposta geral a delimitação do espaço erótico no papel impresso, em meio ao texto poético, e, por conseguinte, no mundo real. Para tanto propõe-se comparar duas escritas de caráter revolucionário, fazendo a união da portuguesa Maria Teresa Horta e do brasileiro Carlos Drummond de Andrade pela trama erótica, pelo discurso atópico e marginal do erotismo para o qual os dois produziram livros, que são, respectivamente, Educação Sentimental (1975) e O amor natural (1992). Aqui temos o erotismo como a soma das vozes masculina e feminina na relação heterossexual e pretende-se esquadrinhar como o universo da literatura representa o homem e a mulher, se é a representação de uma representação que nos é imposta socialmente ou se traz à tona algo de novo. Assim, pretende-se dar enfoque à existência da representação de dois erotismos, e busca-se confirmar ou derrubar por terra o ponto principal dessa bipartição: as diferenças entre os gêneros e as sexualidades. Se cada ponto de vista é a vista de um ponto, cada autor falará do alto de seu ponto de observação e experimentação, o mais confortável para si. Para tanto, busca investigar o erotismo em si e sua relação com a vida cotidiana, delimitando também o que o afasta da pornografia, tão banalizada em nossos dias. Partindo do texto poético para a investigação, percebe-se que a oposição obrigatória entre gêneros faz parte da luta travada por poder e assim confirmamos que eles são produtos de processos sociais e culturais. A mulher é o segundo sexo? Os sexos são dois lados de uma mesma moeda, dois descontínuos que se desejam contínuos um no outro, transubstanciando-se. Teresa Horta faz do homem seu objeto de desejo e Drummond se posicionará como o sátiro, devasso e luxurioso. Nesse intuito, tomamos a obra de Maria Teresa Horta como iniciadora e incitadora da construção da sexualidade feminina no momento histórico em que essa estava desvencilhada do prazer. Por meio de poemas eróticos, a autora esquadrinha o corpo feminino, não como forma de punição ou alimento do prazer alheio, mas sim como discrição dos pontos de prazer desse corpo há séculos marginalizado. Seu trabalho é delicado: uma voz feminina delimitando o corpo feminino. Em Drummond, a tarefa principal será manter seu estereótipo de homem. Para isso sacrifica um pouco do seu ser poético, já que ficou amplamente conhecido pela sua timidez mineira e no livro aqui estudado não há espaço para a timidez. Temos, então, na literatura, um espaço aberto para a construção/reconstrução da história dos gêneros, apontando para um novo caminho possível.