A identidade (con)fundida: relação entre sujeito e sociedade no romance Lorde, de João Gilberto Noll
Constituição da Subjetividade. João Gilberto Noll. Literatura e Sociedade.
A obra de João Gilberto Noll é caracterizada por traços recorrentes bastante singulares. De um lado, as quebras com determinados padrões usuais a formulações retórico-discursivas (pessoa, gênero, número, tempo, modo, grau etc., afora a peculiaridade dos enredos); de outro, o fato de seus personagens-protagonistas não possuírem pontos de fixação ou de referência minimamente precisos (nome, profissão, descrição física, laços familiares e afetivos, residência fixa etc.). Em conjunto, estes fatores geram enorme ambiguidade, a ponto de, não raro, um personagem não só se confundir com outro, mas, literalmente, fundir-se com o outro. Diante destas características, esta pesquisa se apresenta como um estudo dos procedimentos por meio dos quais essa confusão identitária se instaura e se dissemina no romance Lorde (2004), de João Gilberto Noll, analisando seus efeitos sobre a articulação de seu personagem-protagonista. Junto a esta análise, os resultados obtidos são discutidos levando em conta sua possível motivação social, concebendo-a como um processo imanente à composição do texto. Para tanto, a discussão será fomentada teoricamente a partir de conceitos oriundos do que se denominaria aqui como a filosofia da não-identidade – conforme postulada por Theodor Adorno (1982); (1985); (2003); (2008); (2009) e desenvolvida por seus interlocutores contemporâneos Arturo Gouveia (2010); Rodrigo Duarte (1993); Fabio Akcelrud Durão (2011); dentre outros. Assim sendo, essa escolha se justifica na medida em que os traços típicos à escrita de Noll, que resvalam em invariável e inevitável confusão identitária, são como que radicalizados no romance escolhido.