Tityus stigmurus; Antimicrobiano; Escorpião; Antiproliferativo; Peptídeos;
A resistência a fármacos convencionais em doenças de origem infecciosa e
neoplásica consiste em um grave problema de saúde pública mundial, apresentando
elevada morbidade e mortalidade, levando a incessante busca por novas moléculas
terapêuticas em diferentes fontes naturais. Nesse contexto, a peçonha de
escorpiões constitui um rico arsenal de moléculas bioativas, sendo os peptídeos sem
pontes dissulfetos (PSPDs) alvo de estudos devido as suas ações multifuncionais.
Stigmurina (FFSLIPSLVGGLISAFK-NH2, 1795,2 Da) e TsAP-2
(FLGMIPGLIGGLISAFK-NH2, 1733,2 Da), PSPDs obtidos do transcriptoma da
glândula de peçonha do escorpião Tityus stigmurus com carga +2 e ponto isoelétrico
teórico de 8,75, tem demonstrado efeito antimicrobiano e antiproliferativo in vitro e
ação antibiótica no modelo de sepse polimicrobiana. Considerando a ação
multifuncional de PSPDs, neste estudo foi elucidado a estrutura tridimensional da
Stigmurina por ressonância magnética nuclear e avaliadas as atividades
antiproliferativa, imunomoduladora, antiparasitária, antiviral, antioxidante e
antibiofilme dos peptídeos Stigmurina e TsAP-2. Os efeitos cicatrizante e antibiótico,
de ambos os peptídeos, tem sido avaliado no modelo de infecção bacteriana de
feridas in vivo, bem como expandido o potencial antibacteriano in vitro do TsAP-2.
Stigmurina em trifluoroetanol: água apresentou uma conformação randômica na
região N-terminal, com uma estrutura helicoidal a partir do sétimo resíduo de
aminoácido, sendo o primeiro PSPD antimicrobiano presente na peçonha de
escorpiões do gênero Tityus com estrutura tridimensional elucidada. Stigmurina e
TsAP-2 revelaram ação antiproliferativa sobre as células neoplásicas em
concentração não tóxica para célula normal, modulando a liberação de nitrito em
macrófagos murinos estimulados por lipopolissacarídeo. Stigmurina e TsAP-2 não
demonstraram efeito leishmanicida sobre a forma amastigota de Leishmania
braziliensis. No entanto, o TsAP-2 revelou uma elevada ação tripanocida sobre as
formas epimastigota e tripomastigota do Trypanosoma cruzi, com amplo espectro de
ação antibacteriano em microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos. Um efeito
protetor nas células epiteliais renais de primatas contra a infecção pelo vírus do Zika
também tem sido demonstrado no ensaio de pré-tratamento com ambos os
peptídeos, revelando uma elevada ação virucida sobre o vírus do herpes simples
tipo 1, com atividade antiviral no ensaio de pós-infecção. Além disso, Stigmurina e TsAP-2 foram capazes de sequestrar o radical hidroxila in vitro na concentração de
10 µM e 5 µM, respectivamente, reduzindo sua ação em concentrações elevadas,
sugerindo a formação de aglomerados. Ambos os peptídeos demonstraram
atividade antibiofilme, bem como apresentaram ação antibacteriana no modelo de
infecção de ferida de pele, aumentando a velocidade de retração da lesão,
sugerindo a capacidade de indução do reparo tecidual. Na análise histológica, TsAP-
2 promoveu o aumento da neovascularização e reepitelização, reduzindo a necrose
na ferida cirúrgica. Tomados em conjunto, os dados sugerem que Stigmurina e
TsAP-2 constituem peptídeos multifuncionais promissores para utilização como
protótipo na obtenção de novos agentes terapêuticos.