Eça de Queiroz e a Cozinha Burguesa. Literatura e Alimentaçāo
Literatura; alimentação; cozinha; cozinha burguesa.
Utilizar a literatura para problematizar o tema da alimentação, propriamente a cozinha burguesa, foi o propósito deste trabalho. Como corpus, utilizamos uma das obras de Eça de Queiroz, A cidade e as Serras. Serviram como referenciais teóricos o conceito de cozinha universal de Claude Lévi-Strauss, além daquele apresentado pelo sociólogo Jean Claude Fischler que a compreende como um sistema cultural alimentar que comporta representações, crenças e práticas de um grupo específico. Após a leitura inicial do romance e construção de um arquivo com informações gerais sobre a obra, espacialidades para elaboração de um material de análise foram assim pensadas a priori: a obra, personagens, comidas, intelectuais e geografias. Percebemos a cozinha como um epicentro para a compreensão da cultura de um grupo específico: neste caso, o burguês. Propusemos um modelo quaternário para sistematizá-la: a cozinha burguesa é aquela que põe em relevo a técnica, que tem afeição por aquilo que é raro e/ou caro apesar de consumi-lo com temperança, que estabelece uma nova relação com o uso do tempo e que, por fim, inaugura o ritual que envolve frequentar restaurantes e cafés. O exercício de pensar a cozinha burguesa por meio da literatura sugere que esta possa produzir na formação de nutricionistas a ampliação de suas capacidades de compreensão do objeto complexo com o qual lidam em sua profissão: a alimentação.