TERRITÓRIO, TÉCNICA E ELETRIFICAÇÃO: AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DO CIRCUITO ESPACIAL DE PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO RIO GRANDE DO NORTE
Território. Energia Elétrica. Energia Eólica. Circuito Espacial de Produção. Macrossistema Elétrico Nacional.
A expansão do meio técnico-cientifico-informacional no mundo contemporâneo tem gerado uma demanda crescente por produção de energia elétrica em escala global, especialmente,a partir de fontes renováveis não-convencionais, como a eólica, a solar e a biomassa. A procura por novas fontes tem ocorrido desde a década de 1970, em virtude da reorganização da geopolítica energética internacional provocada pelos choques do petróleo e seus impactos negativos na economia dos países importadores da OCDE; de inversões públicas e privadas na descoberta e avanço de novas tecnologias de geração e transmissão de energia elétrica; dos riscos socioambientais envolvendo o uso de algumas fontes tradicionais, como a termonuclear; e da emergência da questão ambiental e sua transformação em negócio de mercado. Nesse sentido, novos lugares têm se especializado na produção de eletricidade a partir do uso do potencial energético renovável disponível em seu meio ecológico, se tornando nichos de mercado. No Brasil, país cuja matriz elétrica está assentada, predominantemente, na fonte hidráulica, o desenvolvimento de projetos de geração de energia elétrica com base na utilização de fontes eólica, biomassa e solar, tem feito com que subespaços do território nacional, historicamente demandantes de eletricidade, se tornem também provedores, como é o caso do Rio Grande do Norte. Nos últimos anos, os potenciais eólico e solar, disponíveis em abundância nesse estado, despertaram o interesse de investidores nacionais e internacionais, o que fez sua capacidade elétrica instalada aumentar de 17 MW em 2003, para 4.245 MW em 2018, dos quais 85% é de origem eólica (ANEEL, 2018).Essa capacidade, ao ser convertida em produção, inverteu a posição histórica do estado no âmbito do subsistema Nordeste, do SIN, passando de importador a exportador de energia elétrica. No contexto dessa nova configuração, se deu a ampliação e a renovação de sua base material elétrica mediante a instalação de novos fixos, como unidades geradoras, subestações e linhas de transmissão. Logo, a tese que aqui se apresenta defende que esse processo, conduzido pelo subcircuito eólico, possibilitou a expansão do macrossistema elétrico nacional no Rio Grande do Norte, reorganizando o território em suas dimensões técnicas, normativas e institucionais. Diante disso, ao revisitar os estudos de Geografia da Energia realizados por Max Sorre (1948, 1967), Pierre George (1952) e Gerald Manners (1964), objetivamos compreender as novas configurações do circuito espacial de produção de energia elétrica no Rio Grande do Norte a partir do uso corporativo do território pelo setor eólico, destacando o processo de expansão do macrossistema elétrico nacional no meio geográfico potiguar. Para tal, recorremos ao uso da teoria do circuito espacial de produção, assentada na tradição intelectual marxiana e no pensamento do geógrafo Milton Santos. Os resultados parciais nos conduzem a afirmar que as novas configurações desse circuito produtivo no Rio Grande do Norte ampliaram a sua estrangeirização, sua financeirização e sua oligopolização em decorrência da fusão e concentração de capitais e da compra de ativos nacionais por empresas internacionais, sobretudo, espanholas e, mais recentemente, chinesas, que controlam, majoritariamente, as etapas de geração, distribuição e comercialização de eletricidade no estado. Isso nos leva a concluir que vem ocorrendo no território potiguar um processo, outrora observado por Milton Santos no território brasileiro, de expansão dos espaços nacionais da economia internacional, agora através da energia elétrica.