HANNAH ARENDT E A CRISE DA EDUCAÇÃO COMO CRISE POLÍTICO-FILOSÓFICA DA MODERNIDADE
Hannah Arendt - Modernidade - Educação - Filosofia - Política
O propósito da presente dissertação consiste em esclarecer e discutir a reflexão de Hannah Arendt sobre a crise da educação no mundo contemporâneo enquanto crise político-filosófica da modernidade. Apresentaremos a abordagem contida no ensaio "A crise na educação" à luz de outros textos da autora que tratam implicitamente do tema ou acrescentam elementos que contribuem decisivamente para a elaboração da análise. Iremos propor conexões entre a reflexão arendtiana sobre a crise da educação e seu diagnóstico a respeito da crise político-filosófica da modernidade. O problema específico da educação é uma porta que se abre para a multifacetada obra arendtiana, permitindo enxergar diferentes ângulos e partes desse espaço de reflexão. O problema da educação pode abrir uma porta para iluminar o conceito de “mundo comum” em Arendt e, ao mesmo tempo, o conceito de homem como “ser-do-mundo” pode iluminar o problema da educação, conferindo-lhe um novo significado político-filosófico e um elucidativo diagnóstico crítico da situação atual em que o aprender e o ensinar estão inseridos em meio à crise da modernidade tardia. Trata-se de elucidar de que modo, no mundo moderno, a educação, atrelada ao primado do “social”, transforma-se em um valor privado, ou seja, uma forma de aquisição de uma posição mais elevada na esfera socioeconômica, sem qualquer vínculo com o mundo comum. A educação socializada deixa de ser uma mediação do privado para o público, tornando-se investimento privado tendo em vista alguma distinção social ou um meio de “ganhar a vida”. Não se trata mais de iniciação a um mundo público sustentado pela ação e pelo discurso e que deve transcender toda existência individual, mas sim de treinamento necessário para o labor na vida social.