Prazer com razão: análise e crítica da ética sexual kantiana
Kant. Sexualidade. Dever. Humanidade. Degradação.
A presente dissertação objetiva apresentar os fundamentos da ética kantiana no que concerne ao juízo moral acerca das práticas sexuais. Mostra que o ato sexual, para o filósofo, inevitavelmente degrada os indivíduos que nele tomam parte, dada a sua natureza objetificadora, manifesta no uso dos indivíduos como meros meios para a obtenção de prazer. Para solucionar tal aporia da natureza – posto que humanidade é um fim em si mesmo, em virtude de ser portadora de racionalidade, não podendo, por isso, ser tratada como mero meio – Kant afirma ser o matrimônio o lócus moral adequado para o exercício da sexualidade, dada a reciprocidade aí forjada, impedindo a degradação. No casamento, o vínculo estabelecido entre o impulso da natureza para a conservação da espécie – concretizado por meio do intercurso sexual aberto à procriação – e o dever do homem para consigo mesmo enquanto ser animal – preservar a espécie sem degradar a pessoa – é cumprido de modo plenamente moral. Este texto clarifica que a justificativa para a assunção desta solução se fixa em dois desdobramentos do imperativo categórico: as fórmulas da lei da natureza e da humanidade. A despeito do fato da primeira estabelecer um papel normativo para o argumento teleológico da sexualidade, concluímos que é possível, para além dele e com as contribuições advindas do conceito de reciprocidade obtido pela aplicação da segunda formulação, efetivar relações afetivas morais também fora do matrimônio, propondo, assim, um paradigma ético adequado para os novos arranjos afetivo-sexuais.