ESTRATÉGIAS EM SAÚDE DIGITAL E SEUS IMPACTOS NA QUALIDADE DO CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO CONTEXTO DA COVID-19: UMA SCOPING REVIEW
Saúde digital; Telessaúde; Telemedicina; Teleconsulta; Atenção Primária à Saúde; Qualidade do cuidado; COVID-19.
Introdução: A pandemia da COVID-19 trouxe impactos sociais, econômicos e de saúde, que exigiu adaptação rápida dos sistemas de saúde não somente do ponto de vista quantitativo, mas também de qualidade. O uso das ferramentas de Tecnologias da Informação e Comunicação teve um efeito portentoso no cumprimento deste objetivo, todavia não se conhece em que medida essa tecnologia foi sendo incorporada pelos sistemas de saúde.
Objetivo: Mapear o uso das estratégias em saúde digital na Atenção Primária à Saúde no cenário mundial, e seu impacto na qualidade do cuidado, no contexto da pandemia da COVID-19.
Métodos: Foi realizada uma revisão de escopo, embasada no manual do Joanna Briggs Institute, orientada pelo PRISMA Extension for Scoping Reviews. Uma busca sistemática e abrangente, em três passos, foi realizada em junho e julho de 2021, em bases de dados multidisciplinares de ciências da saúde e da literatura cinzenta. Dois autores avaliaram independentemente a elegibilidade e extraíram os dados, que foram analisados por meio da análise temática.
Resultados: A revisão incluiu 44 estudos. Seis agrupamentos temáticos foram identificados: Caracterização e distribuição geográfica dos estudos; Nomenclaturas das estratégias digitais adotadas; Tipos de Tecnologias da Informação e Comunicação; Características das estratégias digitais na Atenção Primária à Saúde; Impactos na qualidade do cuidado; Benefícios, limitações e desafios das estratégias digitais na Atenção Primária à Saúde.
Os impactos na dimensão organizacional foram os que mais estiveram presentes nos estudos, sendo de forma positiva para o fortalecimento da continuidade do cuidado; acessibilidade econômica, social, geográfica, de tempo e cultural; coordenação do cuidado; acesso; integralidade do cuidado; otimização do tempo das consultas e eficiência, principalmente. Em contrapartida, observaram-se impactos negativos nesta mesma dimensão, como menor acesso aos serviços e evidência de aumento de iniquidades e uso desigual dos serviços ofertados; exclusão digital de parcelas expressivas da população; falta de planejamento na definição do papel da equipe de profissionais; desarticulação das ações com a necessidade real da população; frágil articulação entre as modalidades remota e presencial; despreparo de profissionais para atender às demandas com uso das tecnologias.
Conclusões: Os resultados revelaram impactos positivos e negativos das estratégias remotas na qualidade do cuidado na atenção primária, mas sobretudo alguma incapacidade de aproveitar o potencial das tecnologias, o que pode demonstrar diferenças na organização da implantação, rápida e emergencial, das estratégias digitais na APS pelo mundo. Assim, tendo em vista a importância da saúde digital na atual situação de saúde mundial, e a possibilidade de integração e avanço desta estratégia após a pandemia, a atenção primária deve fortalecer sua capacidade de resposta, ampliar o uso das tecnologias da informação e comunicação, gerenciando os desafios passíveis de mudanças de forma adaptativa e ancorada em evidências.