Sapateia da Macumba Zé: Danças de Catimbó, Danças de encruzilhada
Jurema Sagrada; Encruzilhada; Dança.
“...Jurema preta, a senhora é rainha ela é dona da cidade, mas a chave é minha”. O que poderia ter sido apagado no passado, ecoa no corpo de quem tem sangue de caboclo e treme sua pele arriando a flecha em cada solo sagrado. A tecnologia ancestral de cura esquivou-se do fim tornando-se prática religiosa. A Jurema Sagrada é uma religião remanescente de práticas indígenas que foram/são atravessadas pela ancestralidade afro diaspórica e pelo Cristianismo (Lima, 2019) resultando numa fé de encruzilhada onde por meio de rituais, signos e transes encontramos a saída deste tempo nos fortalecendo no tempo ancestre. A presente dissertação é fruto de um catimbó para o corpo dançar, um processo criativo em dança chamado JUREMA PRETA que nasceu no chão do Terreiro de Ogum Beira-Mar (Cabedelo - PB) e no fundo do meu quintal. Dentre algumas motivações deste percursso, cito o mapeamento de bibliografias sobre a Jurema Sagrada, a análise de corporeidades, padrões de movimentos e simbologias presente na prática religiosa compreendendo a cada ciclo deste processo as suas potências poéticas, a investigação dos corpos presentes no Catimbó, partindo das experiências pessoais e coletivas na espiritualidade dentro e fora do loccus terreiro. Aqui a autoetnografia (Santos, 2017) e a limiaridade (Silva, 2020) são alguns dos caminhos metodológicos que abraço para atravesar minha curiosidade sobre os corpos que estão à margem. O corpo da beira da maré, da pesca, do coqueiral, da gira, do toque, do benzimento... Esses que detém e são marcados pela ginga das histórias e memórias, em especial os que ainda carregam a dança como parte fundamental de seus processos de cura e de contato com suas ancestralidades. Esse corpo também é meu. E eu sei.