Multifuncionalidade do TIPO na fala de Natal/RN: gramaticalização com foco em implicações sociais
TIPO. Funções morfossintáticas. Funções discursivas. Gramaticalização. Abordagem funcionalista.
Esta tese investiga as diversas funções do item linguístico TIPO, no âmbito textual e interacional, na fala de Natal/RN. Trata-se de um estudo baseado no funcionalismo linguístico norte-americano (cf. GIVÓN, 1981, 1995, 2001; HOPPER, 1991; TRAUGOTT, 2010) e tem como objetivo obter indícios acerca do percurso de gramaticalização que esse elemento tem seguido, por meio do mapeamento, descrição e caracterização das funções identificadas na fala natalense, correlacionadas a fatores de natureza social (idade, sexo e grau de escolaridade), linguística (escopo sintático e sequência discursiva) e estilística (relação entrevistado(a)-informante). Dessa forma, esta pesquisa dialoga também com a sociolinguística variacionista (cf. LABOV, 1972, 1994, 2001), servindo-se das propostas dessa teoria a respeito da mudança linguística no que concerne a explicações sociais e estilísticas. Os dados para a análise, que somam 305 ocorrências do item sob enfoque, foram coletados do Banco de Dados Fala-Natal, composto de 48 entrevistas estratificadas quanto à idade (8 a 12 anos, 15 a 21 anos, 24 a 45 anos, mais de 50 anos), o sexo (feminino, masculino) e o grau de escolaridade (fundamental I, fundamental II e ensino médio). Dentre os diversos usos identificados, foram mapeadas 13 funções, das quais 4 classificamos como morfossintáticas/textuais, a saber: comparação, exemplificação, explicação e conclusão, em que o item atua em papeis mais textuais, conectando orações e possuindo maior grau de obrigatoriedade na estrutura, e 9 como discursivas/interacionais, quais sejam: marcação de elaboração, marcação de reelaboração, marcação de imprecisão informacional, introdução fática, marcação de ênfase, delimitação aproximativa, introdução de discurso direto, marcação de sequenciação e solicitação de esclarecimento, em que o item exerce papeis mais interpessoais, ligados às atitudes do falante em relação ao ouvinte. Essas funções foram descritas e caracterizadas de acordo com aspectos semânticos e pragmáticos e organizadas em um continuum de (inter)subjetificação (cf. TRAUGOTT, 1982), seguindo a ordem de significados mais subjetivos para mais intersubjetivos, que parece indiciar as etapas de gramaticalização do item. Essa ordem se relaciona com a incidência de traços de similaridade, planejamento e realce, respectivamente, de maneira que, aparentemente, o primeiro tende a se relacionar às funções morfossintáticas, em que o elemento possui significados mais subjetivo, e os demais às interacionais, em que possui significados mais intersubjetivo. Além disso, foram correlacionadas a fatores sociais, linguísticos e estilísticos.