GRANDE SERTÃO: VEREDAS e CARTILHA DO SILÊNCIO: A REALIDADE SE RECOMPÕE PELA TRAVESSIA DA MEMÓRIA
Palavras-chave: Rememorar – Silêncio – Melancolia – Rosa e Dantas
RESUMO
O presente trabalho ocupa-se da investigação das redes intertextuais entre as obras Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, publicado em 1956, e Cartilha do Silêncio, de Francisco José Costa Dantas, de 1997. Buscamos o fazer da escritura através de suas semelhanças e diferenças, no que tange as categorias analíticas da rememoração associada à figuração do silêncio e da melancolia, como elementos de composição dos romances. Procuramos ver nas ações de Riobaldo, o jagunço de o Grande Sertão, e os personagens capitulares, de a Cartilha, o fio tecido pela linha da rememoração como procedimento de coisas infindas assinalando o trajeto em espiral dos romances analisados. A fim de procedermos ao exame crítico das obras, tomaremos como orientação de leitura sobre a intertextualidade, segundo o estudo crítico Tânia Carvalhal (2013), presente em O próprio e o alheio, seguido da perspectiva dialógica de Bakhtin (2013), em Problemas da poética de Dostoiévski. A noção de sistema literário e tradição, valemo-nos do pensamento de Antonio Candido (1999), presente no livro Iniciação à literatura brasileira. Para a discussão acerca da memória, adotamos os estudos de Ecléa Bosi (1994), Memória e Sociedade, e Le Goff (1994), Memória e História. No que diz respeito às reflexões sobre o silêncio, nos reportamos a Roland Barthes (2003), O neutro; Orlandi (2007), As formas do silêncio, e Maria Lúcia Homem (2012), No limiar do silêncio e da letra. Nossa análise traz um olhar focado no trabalho de memória por acreditarmos que ela seja o viés da tessitura de toda a (re)construção da narrativa de o Sertão e de a Cartilha. De modo que o relato dos personagens soa como expressão de fragmentação e descontinuidade, instigando ao movimento retornável, mas a refazer diferente o vivido, quebrando com o estatuto do mesmo, a revelar-se uma repetição que não se repete, mas se refaz diferente o igual.