Professores surdos de Libras: a centralidade de ambientes bilíngües em sua formação.
Formação de professores surdos de Libras. Educação de surdos. Pesquisa (auto)biográfica em Educação. Entrevista narrativa.
O objeto de estudo desta tese entrecruza a história da educação de surdos, nos últimos 30 anos, em três escolas para surdos nos municípios de Campina Grande, Gado Bravo e Aroeiras, na Paraíba, as histórias de vida de seis docentes surdos de Língua Brasileira de Sinais (Libras), que se formaram e atuam nessas instituições de ensino para surdos e o nosso próprio percurso, como formadora e pesquisadora. O trabalho foi desenvolvido no marco teórico-metodológico da pesquisa (auto)biográfica em Educação e dos estudos sócio-históricos sobre a formação social do humano. O corpus utilizado para a análise constou de seis entrevistas narrativas, realizadas em língua de sinais e transcritas para o português, de documentos e arquivos pessoais e institucionais. A análise nos possibilitou delimitar três momentos charneiras dessa história: o da criação da primeira escola para surdos, no marco do Oralismo (1980 – 1991), o da passagem para a Comunicação Total (1991 – 1995) e, finalmente, o da introdução do Bilinguismo (1995 aos dias de hoje). As análises revelam que as trajetórias de formação docente dos participantes da pesquisa refletem a história das três escolas que constituíram espaços sociais bilíngues de suma importância para os sujeitos e a comunidade surda enquanto grupo social de minoria linguística e cultural. A evolução dessa trajetória permitiu demarcar duas gerações entre os participantes da pesquisa. A geração dos herdeiros do oralismo, que tiveram acesso tardio à Libras e que viveram uma educação referenciada no Oralismo, cujas reminiscências da infância e da adolescência estão fortemente marcadas por sofrimento pela falta de comunicação, o que dificulta sua trajetória social e profissional até hoje. E a geração dos filhos do bilinguismo, os mais novos em idade, que tiveram acesso à Libras na infância e à escolaridade nos marcos do bilinguismo, cujas reminiscências não estão marcadas pelo sofrimento e têm uma visão positiva do futuro. No que concerne à sua formação docente, destacam-se três figuras de professor. A do professor improvisado, mais próxima dos docentes da primeira geração que foram chamados a ensinar sem a devida formação. A figura do professor artesão, que corresponde à imagem que a maioria deles tem de si mesmo atualmente, entendendo que seus saberes fundamentam-se na troca entre pares. E finalmente a figura do professor de verdade, que se coloca em seu horizonte de expectativas como futuros graduados em Letras/Libras. As narrativas permitiram perceber que a evolução entre essas figuras está alicerçada nas contribuições do outro: professores ouvintes da EDAC e da Universidade Federal de Campina Grande e professores surdos das duas gerações que aprendem mutuamente. As análises e reflexões permitiram defender a tese da centralidade de ambientes bilíngues para a constituição da pessoa surda como cidadão de plenos direitos, com base na voz do surdos, silenciados pela história da educação, conduzida por ouvintes.