A OUSADIA COMO HORIZONTE. Religando vida e idéias na formação em enfermagem.
Formação em Enfermagem. Biografias de Formação. Complexidade. Ciências da Vida.
Uma proposta de formação em saúde/enfermagem calcada na ciência clássica, no
pensamento redutor e no paradigma flexneriano é insuficiente para compreender e
intervir de forma ampliada nas necessidades de saúde da população uma vez que é
produzida pela fragmentação dos saberes, racionalização do pensamento, tecnificação
e biologização das atitudes. É preciso que a formação em saúde/enfermagem
oportunize a construção de conhecimentos a partir de uma ciência aberta que
possibilite a construção e efetivação dos princípios e diretrizes do Sistema Único de
Saúde (SUS). Nesse contexto de emergência de uma formação complexa em
saúde/enfermagem, as trajetórias de vida e formação das enfermeiras Abigail Moura,
Francisca Valda e Raimunda Germano são exemplos de experiências transgressoras e
exitosas que possibilitam inquietar, mudar e transformar padrões de formação e
autoformação. O presente estudo é construído a partir da compreensão de “método
como estratégia”, defendido por Morin e pelas ciências da complexidade. Tem como
objetivos construir as biografias de formação dessas três enfermeiras que expressam
um modelo de formação mais totalizador e humanitário; analisar e discutir a partir dos
três fragmentos biográficos princípios norteadores para o atual processo de formação
em saúde/enfermagem. Das biografias, a coragem e a humildade emergem enquanto
princípios balizadores de suas experiências. A humildade não enquanto
autodepreciação, nem humilhação, mas enquanto consciência da nossa incompletude e
inacabamento, aceitação dos limites e potencialidades e redução da vaidade intelectual.
A coragem, por sua vez, é a pulsão humana, incerta por natureza, que nos leva a agir,
enfrentar e perseverar em momentos de temor e dificuldades. Uma formação em saúde
e enfermagem pautada na coragem e humildade permite que os sujeitos sejam
retirados da indiferença, da arrogância, da inércia, do pragmatismo: aposta em sujeitos
éticos e políticos capazes de minimizar processos desiguais, desumanos e excludentes.
Uma atitude intelectual e profissional que politize o pensamento e a ciência é o que se
deve esperar de uma formação complexa na área da saúde, de modo latu na
enfermagem em particular.