ESTILHAÇOS DISTÓPICOS: UMA ANÁLISE DIALÓGICA DO EPISÓDIO NOSEDIVE DA SÉRIE BLACK MIRROR
Nosedive. Black Mirror. Identidade. Redes sociais. Dialogismo.
Nesta dissertação, objetiva-se estabelecer, a partir dos pressupostos teóricos-metodológicos do Círculo de Bakhtin, uma análise discursiva do processo de construção identitária dos personagens do episódio Nosedive, da série britânica Black Mirror, sobretudo da identidade da protagonista, Lacie Pound, e de quais formas as construções das identidades refletem e refratam as identidades dos sujeitos contemporâneos, marcados por uma identidade inacabada (HALL, 2006). Também pretende-se analisar como a série Black Mirror, por meio da linguagem literária, representa a realidade atual, definida como líquida (BAUMAN, 2001), digital (HAN, 2019a), transparente (HAN, 2020), hipermoderna (LIPOVETSKY, 2020a) e ligeira (LIPOVETSKY, 2020b). Para alcançarmos tais pretensões, a obra audiovisual (CANTORE E PAIVA, 2020) Nosedive, escrita pelos atores norte-americanos Michael Schur e Rashida Jones, será utilizada como forma de evidenciar as questões identitárias a partir das interações entre Lacie Pound e os demais personagens, tendo em vista que é por meio das relações construídas ao longo do enredo que a construção identitária de Lacie ocorre, evidenciando, assim, questões sociais em um universo extremamente excludente no que se refere à aceitabilidade de pessoas que fogem ao padrão social imposto e reverberam características do grotesco (BAKHTIN, 1989). Nessa esfera de extremismo social, intenciona-se analisar como o gênero discursivo distopia em conjunto com o gênero discursivo ficção científica constroem um novo gênero, o qual resulta na série em questão. Além disso, tenciona-se estudar como os corpos grotescos são constituídos ao longo do enredo de Nosedive, em especial o corpo da personagem principal – uma vez que o grotesco é mais notável em sua imagem corpórea – e de quais formas eles estão ligados ao ideal de arquétipo corporal difundido na hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2020a) e na sociedade do belo (HAN, 2019b). Por fim, procura-se evidenciar a aversão que a sociedade de Nosedive tem ao diferente, metamorfoseado na figura monstruosa, tornando-se passível de punição e eliminação social, o que acaba por refletir o mundo da vida contemporânea na arte.