A VIOLÊNCIA FAMÍLIAR EM MAÇÃ AGRESTE, DE RAIMUNDO CARRERO: UM ESTUDO SOBRE A FAMÍLIA CAVALCANTE DO REGO
Literatura e violência. Violência estrutural. Personagem. Raimundo Carrero. Família.
Esta tese analisa o romance Maçã agreste do escritor Raimundo Carrero e segue o percurso narrativo de três de seus personagens que ultrapassam o limite das páginas da obra e aparecem em outras narrativas publicadas pelo escritor entre 1995 e 2013. Tais personagens fazem parte de uma família que tem como patriarca o personagem Ernesto Cavalcante do Rego. Filho de usineiro, Ernesto é irresponsável, aproveitador, preconceituoso, racista, machista e oportunista. Apesar de pertencer à elite, ele decai e na velhice encontra-se em extrema miséria, de modo que seus descendentes são personagens marginalizados socialmente pela pobreza, por suas profissões e pelos espaços que ocupam. A obra tem como uma das temáticas mais fortes, a violência. A qual, apesar de, em diferentes momentos, aparecer de forma explícita, aponta para a ideia de que a sociedade está organizada de modo a possibilitar que algumas formas de violência sejam praticadas contra alguns grupos sociais e sejam invisibilizadas. Desse modo, o objetivo deste trabalho é investigar se a estética, a construção dos personagens, a linguagem e a organização estrutural presentes na obra Maçã agreste são utilizadas como um instrumento para explicitar a violência estrutural presente na sociedade contemporânea. No que se refere à temática da violência, usamos os conceitos de violência ética de Butler (2015), de violência simbólica de Bourdieu (2001, 2012), do controle dos corpos e do Panoptismo de Foucault (1988, 2014); para a análise da categoria personagem usamos os preceitos de Candido (2007) sobre a personagem do romance e Brait (1985) sobre a personagem da narrativa; quanto à relação entre a literatura e a violência usamos Lins (1990) e Ginzburg (2012). A pesquisa é de natureza qualitativa, uma vez que busca investigar os elementos que compõem a estética da obra, tais como foco narrativo, tipo de discurso, linguagem utilizada para compor cada personagem, e sua importância para compreender e justificar a presença da temática da violência. A hipótese é de que a presença constante da violência na obra é uma estratégia para chamar a atenção em relação à ideia de que a sociedade é violenta em sua estrutura, a partir de um conjunto de normas e preceitos que dita quem, quando e onde pode fazer as coisas. Uma vez que o modo como a sociedade se organiza permite que a violência seja praticada constantemente e que as pessoas não vejam ou finjam não ver. Isso acontece de modo disfarçado e resulta em desigualdade social e opressão. Esse tipo de atitude que pode ser entendida como violência estrutural é presença marcante na obra de Raimundo Carrero, num enredo composto por atos de personagens marginalizados socialmente, em ações que refletem essa marginalização que lhes é imposta. A qual é respondida com sofrimento e ações violentas que é naturalizada por uma sociedade que se nega a se reconhecer nesse como participante dessa ação.