EMBATES DIALÓGICOS EM UM PAÍS DIVIDIDO: CHARGE E RESPONSIVIDADE NO PROCESSO DE IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF
Charges de Ivan Cabral. Relações dialógicas. Responsividade. Embates dialógicos. Enunciado concreto. Impeachment de Dilma Rousseff.
A charge é um gênero discursivo que circula em variados veículos de notícia e, atualmente, difundido também em inúmeros outros meios de comunicação. Esse gênero discursivo permite uma maior visibilidade da opinião do autor, isto é, esse "autor falante" produz o conteúdo-temático carregando-o ideológico e axiologicamente. A produção desses enunciados concretos (charges) é voltada para um ouvinte/leitor que também é histórico e também está situado em um ambiente social, fazendo com que esse direcionamento seja responsivo ao leitor, à situação e aos fatos. Para essa pesquisa, tomamos como referencial teórico as concepções advindas do Círculo de Bakhtin no que concerne às relações dialógicas, à heterodiscursividade, a posicionamento e embates dialógicos. Para compreender o riso chargístico, apoiamos nossas reflexões em Bergson, Propp e Bakhtin. Dada a especificidade do gênero discursivo charge, buscamos ancorar nossas incursões no trabalho de Ivan Cabral, Ramos, Eisner e McCloud. O corpus desta pesquisa são as charges produzidas pelo chargista potiguar Ivan Cabral durante o período do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff que ocorreu entre 02 de dezembro de 2015 e 13 de maio de 2016. A pesquisa se insere na área da Linguística Aplicada mestiça, fronteiriça e indisciplinar cujo objetivo é construir intelegibilidade sobre as práticas discursivas, considerando, para tanto, os sujeitos, as esferas de atividade e a historicidade das interações humanas. A investigação analisa os dados construídos a partir da vertente qualitativo-interpretativista e o método indiciário de Ginsburg que se volta para os indícios, os sinais que denunciam sentidos e posicionamentos. Os resultados permitem concluir que a charge, enquanto enunciado concreto, suscita responsividade que permite dar visibilidade aos embates dialógicos entre sujeitos situados e posicionados, confirmando que na interação os sujeitos ocupam lugares e posicões a partir de sua visão de mundo e de um conjunto de valores.