Malandro de gravata e capital: o subalterno de Chico Buarque.
O presente trabalho busca analisar a obra Ópera do malandro(1978), de Chico Buarque de Hollanda à luz da teoria de Gayatri Spivak acerca do sujeito subalterno. Em seu texto Pode o subalterno falar? (2010), Spivak aponta que as classes mais baixas da sociedade, além de serem excluídas do quadro social dominante, não possuem nenhuma autonomia ou representação, já que os que se propõem a esse papel o fazem com base no aparelho ideológico das camadas mais altas da sociedade, e assim a voz subalterna não se concretiza. Chico Buarque, por sua vez, é considerado um dos artistas brasileiros que melhor representa a voz dos desvalidos através da expressão de sua arte. A Ópera do malandro aponta para um sujeito que consegue se estabelecer diante do quadro social muito semelhante ao que Spivak deslinda, como também consegue se encaixar à dinâmica social e continuar na busca dessa voz, que mesmo não sendo possível nos espaços concretos da política, por exemplo, se concretiza no espaço da arte. Spivak, estudando a sociedade indiana, seu país de origem, aponta o processo de colonização como o principal fator da total impossibilidade de fala do sujeito subalterno, e é exatamente neste ponto onde a construção teórica spivakiana e o processo artístico buarquiano apontam caminhos diferentes, pois na verdade o Brasil e a Índia apresentam históricos distintos de colonização, o que por sua vez diferenciam o caminho da história e consequentemente a construção dos sujeitos. Dadas essas circunstâncias e as diferenças entre os momentos históricos, o malandro surge como um sujeito subalterno que se molda, se reifica e consegue estabelecer na arte um espaço onde possa falar.
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