Memórias: as cicatrizes do tempo
PALAVRAS-CHAVE: América Latina, Eduardo Galeano, Graciliano Ramos, Memória, História.
O trabalho Memórias: as cicatrizes do tempo propõe-se a analisar de forma comparativa os livros São Bernardo, de Graciliano Ramos (1892 - 1953) e Dias e noites de amor e de guerra, de Eduardo Galeano (1940 – 2015). Através dessas obras específicas, memórias e histórias que refletem os modos de viver e perceber o mundo demonstram que a América Latina parece estar vivendo uma mesma experiência literária, ao longo do século XX. O reflexo da obra de Graciliano Ramos, em muitos aspectos, parece ser o mesmo que sobressai da obra de Galeano nas histórias que conta através de seu jornalismo literário e memorialista. A história que foi vivida e sofrida e que aparece contada nos livros também está na memória do povo. Esse encadear de memória e realidade é o que motiva a comparação entre os livros, uma vez que entre os dois autores ocorre uma relação que ultrapassa as questões relativas à distinção de gênero literário: assim, vemos que, por um lado, a “realidade” diversificada da América Latina que Eduardo Galeano apresenta em seu “jornalismo” parece ser o terreno amplo que produz a “literatura” de Graciliano, como se fosse sua raiz. Por outro lado, na “literatura” de Graciliano, como produto estético efetivamente anterior ao de Galeano, o pequeno mundo nordestino, fechado por sua rigorosa “construção ficcional”, ressoa o sentido de uma semente, a partir da qual o autor uruguaio retratará a triste floração da “realidade” latino-americana. O respaldo teórico vai ser referendado pela literatura comparada, pela estética social e histórica através das obras de Antonio Candido, pelos aspectos memorialísticos ressaltados pelas marcas do tempo em Ecléa Bosi e pelos acontecimentos sócio-históricos apontados por Márcio Seligmann-Silva.