HAROLDO DE CAMPOS E O BARROCO: A CRIATURA DE OU(T)RO – ENSAIOS PARA UM GUIA DAS GALÁXIAS
HAROLDO DE CAMPOS - GALÁXIAS – BARROCO – POESIA - ROTEIRO DE LEITURA – PEQUENAS ESTÓRIAS
Esta pesquisa consiste na realização de um roteiro de leitura do livro Galáxias, de autoria do poeta, crítico e tradutor brasileiro Haroldo de Campos, com base nos pressupostos conceituais do Barroco histórico e trans-histórico. Propõe-se, deste modo, um mapeamento das possíveis vértebras semânticas que engendram pequenas estórias em rotação pelas páginas galáticas, com vistas a fornecer ao leitor um conjunto de referências que possa contribuir para uma leitura ainda mais fecunda da referida obra. Para tal empresa, buscou-se mapear primeiramente as marcas expressivas que definem a poética haroldiana como singular prática barroca na modernidade, investigando em sua obra as conexões tecidas com o barroco histórico dos séculos XVII e XVIII, a fim de verificar os modos operacionais empregados pelo Poeta no exercício da tradução da tradição literária. Galáxias, a nosso ver, constitui este projeto poético de alta voltagem barroca, amálgama de recursos criativos e conceituais içados da mais rica tradição literária, nacional e estrangeira, e processados antropofagicamente nas sendas da produção artístico-literária contemporânea. Publicado pela primeira vez em 1984, contendo cinquenta páginas-fragmentos, este livro de Haroldo de Campos surge para, dentre outros fins, suscitar o entrecruzar de gêneros literários, como a prosa e a poesia; dissolver as fronteiras entre a cor local e a dicção alheia; transfundir tradição e modernidade; fundir arte e ideologia; mixar fato e fantasia; remixar forma e conteúdo. Todos estes procedimentos literários, intersemiotizados, promovem uma caleidoscópica tessitura verbal que empreende, nas palavras do autor, “a viagem como livro e o livro como viagem” (Campos, 2004, p. 119). Viagem esta, urdida por uma rede intertextual e paródica, dada a ver através de inventivos recursos fono-prosódicos, donde sobressaltam aliterações, anagramas, paronomásias e trocadilhos, desenhando no curso galático sibilantes e sinuosas metáforas que reivindicam a lúdica co-participação do leitor para a fruição da leitura. Isto posto, nosso roteiro de leitura empenha-se sobretudo na tentativa de amplificar os ecos das construções imagéticas que transitam pelas cinquenta páginas da obra, que ora velam ora revelam partículas de estórias que, por um instante apreendidas, podem descortinar outras tantas estórias e, com isso, tornar a leitura tanto mais prazerosa e, como dissemos, fecunda. O fim primeiro das Galáxias, assim entendemos, não terá sido outro senão o da fecundação do gosto pela leitura, daí, nosso roteiro de leitura: para fecundar no leitor o gosto pelas leituras galáticas, tal qual a leitura das Galáxias de Haroldo de Campos.