Na cantilena do café-com-pão: riso e tradição na obra de Bartolomeu Correia de Melo
Riso. Tradição. Bartolomeu Correia de Melo.
A presente pesquisa analisa a obra fictícia do autor potiguar Bartolomeu Correia de Melo, sobretudo os contos publicados no livro Tempo de estórias (2009), tendo como categorias analíticas a tradição e o riso. A tradição apreendida por Melo se inscreve numa estrutura costurada por paradoxos, a dizer de uma rua feita de mão dupla. Nessa perspectiva, os valores do passado chegam aos olhos do leitor, ora como desejo de permanência – forma de resistência à vida social moderna –, ora como matéria problematizada pelo riso. O risível se interpõe, assim, como categoria discursiva capaz de subverter e desmistificar verdades sagradas, inscrevendo-se no contexto da não oficialidade, da não seriedade e da subversão. A análise busca perceber nos contos que constituem o livro o modo como operam tais categorias, considerando suas implicações com a vida sociocultural do estado e do país, o que nos leva a compreender de que maneira a obra de Melo integra o sistema literário nacional, conforme Candido (2013), na medida em que se filia a um conjunto de obras literárias brasileiras cuja dominante temática passa pela valorização de componentes regionais. O aporte teórico que norteia a discussão deste trabalho consiste na compreensão do que vem a ser tradição, segundo as propostas de Gerd Bornheim (1987) e Candido (2013); além da sistematização teórica sobre o riso, consoante a perspectiva de Bakhtin concentrada nas obras A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais e Problemas da poética de Dostoievski.