A recepção da criança com deficiência intelectual ao texto literária na educação infantil
Focalizamos nesta tese a recepção da criança com deficiência intelectual ao texto literário a partir da observação de uma vivência literária num contexto escolar inclusivo, evidenciando as possibilidades que se apresentam na sua construção como leitora/ouvinte de literatura. Mediante um estudo de caso, investigamos os modos de participação de uma criança com deficiência intelectual em situações de oferta e recepção de textos literários, buscando compreender e explicitar os aspectos de seu processo de formação leitora inicial. Os dados foram levantados a partir de observações nos momentos de leitura e de contação de histórias no período de novembro e dezembro/2008 e maio e junho/2009 numa turma de uma escola de Educação Infantil na qual se encontrava matriculada uma criança que apresenta deficiência intelectual associada à Síndrome de Down. Como instrumentos de pesquisa foram utilizados: diário de campo, roteiros de entrevistas e videogravações. As análises se fundamentaram nos estudos de Amarilha (2001, 2006a, 2006b), Bettelheim (2007), Coelho (2008), Iser (1996), Jauss (1979, 1994), Luria (1990a, 1990b), Vygotsky (1991, 1993), Wallon (2007, 2008) dentre outros. O estudo mostrou que, embora pouco se expressando verbalmente e por vezes apresentando limitados níveis de atenção, as atitudes corporais, os movimentos e as falas da criança investigada denunciavam engajamento e rendição ao apelo da sonoridade dos textos partilhados. Esses dados nos dão indícios de que, sob a realização de uma ação mediadora, a criança com deficiência intelectual pode se constituir como uma leitora/ouvinte de literatura, desenvolvendo uma escuta sensível, seletiva e atenta ao texto literário. Dentre outros aspectos, identificamos que (1) a concepção de deficiência apresentada pela escola que reconhece seu potencial de desenvolvimento e de aprendizagem, (2) a situação de partilhamento, que favorece o exercitar de diferentes formas de se relacionar com os textos através do outro, e (3) a relevância da oralidade fornecendo as pistas semânticas que auxiliam a criança na construção de sentidos, se apresentam como fundamentais para seu acercamento ao texto literário, e, portanto, sua formação leitora. Dessa forma, reconhecendo suas capacidades e possibilidades, pensamos ser importante garantir à criança com deficiência intelectual um espaço para a interação com o texto ficcional no qual ela possa aprender a reconhecer e vivenciar o seu caráter lúdico e interativo, degustar de forma prazerosa a sua escuta, beneficiando-se, assim, da experiência estética vivenciada, principalmente, quando em situações coletivas mediadas pelo leitor mais experiente e partilhadas com seus diferentes pares. O estudo indica ainda que, atentar para condições que garantam um clima favorável à escuta de histórias nas salas de aula da educação infantil, como o cuidado com a seleção e a prosódia da história, o contrato didático, a atenção às reações individuais, dentre outras, ampliam as possibilidades de que qualquer criança – deficiente ou não – se experimente como leitora/ouvinte de literatura, usufruindo de sua riqueza e magia.
Educação Infantil. Formação Leitora. Recepção Literária. Deficiência Intelectual. Inclusão.